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Estado de Minas

Rolimã - Paixão por ônibus


postado em 03/09/2010 16:39

(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
(foto: Beto Magalhães/EM/D.A PRESS)
Futebol, cerveja e carro estão entre as paixões do brasileiro. Ônibus também, ao menos entre os busólogos, como se intitulam os colecionadores de fotografias, objetos e blogueiros ligados ao transporte urbano e rodoviário de passageiros. Em Belo Horizonte, eles são dezenas e se reúnem semanalmente, nas noites de sexta-feira, no Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro. “Não perco um encontro. É a oportunidade de conversar com outros busólogos, saber sobre as últimas aquisições de empresas e não perder contato com os antigos colegas de serviço”, comenta Bruno Santos Lima, que já trabalhou na rodoviária como funcionário da Empresa Gontijo. Na companhia dos amigos Rafael Carlos e Moisés Magno, Bruno foi conferir de perto o lançamento do ônibus rodoviário Comil Campione numa churrascaria da capital.

RECONHECIMENTO Todo o encantamento por ônibus, porém, ainda não é reconhecido pelo fabricante do novo modelo. “Ficamos sabendo do evento por um frotista”, lamenta Bruno. “Ainda assim, há quem dê o devido valor ao trabalho desempenhado pelos admiradores”, acrescenta Rafael. “Algumas empresas sempre nos recebem nas garagens para fotografar e falar sobre ônibus. Muitos empresários – principalmente os filhos deles – têm acesso à internet e descobrem nossos blogs ao buscar informações na rede”, revela. Para ele, quanto mais sério for o conteúdo do site, mais positivo será o retorno. “A internet aproxima, mas é uma faca de dois gumes. Em alguns casos, comentários negativos de busólogos na web fecham as portas”, diz. O pensamento é compartilhado por Moisés, que usa quatro coletivos diariamente e critica a qualidade do transporte da capital.

CRÍTICA
Para ir de Nova Lima (Região Metropolitana de Belo Horizonte) até o trabalho, em bairros da Zona Sul, o técnico em informática embarca nas linhas 3832, 3848, 9103 e 5102, viagens que se tornam um calvário em horário de pico. “Os ônibus deixam muito a desejar. A maioria tem motor dianteiro, configuração inadequada para linhas troncais e andam superlotados.” A grande barreira para ele, porém, é a acessibilidade. “O elevador é obrigatório nos urbanos de todo o Brasil, mas muitos cobradores e motoristas de BH nem sequer sabem operá-lo. Não é raro ver um cadeirante sendo carregado pelo usuário.” Elevadores quebrados também são fato corriqueiro para quem vive do transporte coletivo, relata o busólogo. “O portador de necessidades especiais se sente desconfortável ao ver que não há uma estrutura adequada para ele.”

PREDILEÇÃO Ônibus urbanos, aliás, são os preferidos do taxista Daniel Oliveira, que fotografa nas horas vagas, entre uma e outra corrida em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Oliveira tinha até um blog, denominado Bus MG, mas a falta de tempo e comentários anônimos maldosos o desanimaram a continuar atualizando-o. “Tinha que fazer e postar as fotos diariamente. Outra coisa que me desestimulou foi o fato de algumas pessoas se apropriarem de fotos minhas.” Daniel ainda publica as fotos dos coletivos, mas no site de relacionamentos Orkut. Entre tantas imagens que já produziu, a mais complicada foi registrada na Estação Eldorado, quando um perueiro o abordou achando que ele havia fotografado uma van. “O sujeito veio para cima de mim, procurando confusão. Daí, tive que explicar que estava focando a máquina num raro ônibus urbano trucado.”

MUSA Num hobby de predominância masculina, a estudante de direito Samantha Chaves de Souza, de Governador Valadares, Região Leste do estado, é considerada a única mulher a fotografar ônibus em Minas Gerais. O gosto começou ainda na infância, quando Samantha ajudava o avô na manutenção de um caminhão e observava os coletivos passando pela BR-116. “Certa vez, um motorista piscou o farol. Foi amor à primeira vista.” Há dois anos, a estudante participou de um encontro de busólogos e passou a gostar do hobby. “Somos grandes amigos e tenho carinho por todos. É gratificante ver que, após este tempo, as minhas fotos são postadas nos mais diversos blogs e sites.” Nem tudo, porém, foram flores para a estudante, que diz já ter sofrido preconceito. “Um motorista parou o ônibus e me disse que lugar de mulher é em casa, cuidando dos afazeres. Fiquei revoltada.”

PROIBIÇÃO O preconceito foi declarado em Ponta Grossa (PR), onde busólogos foram proibidos, por uma circular, de permanecer no Terminal Rodoviário Intermunicipal Vereador Oldemar Andrade. Indignado, o auxiliar administrativo Christian Teixeira, de Divinópolis, Região Centro-Oeste do estado, questiona a medida entre colegas de todo o Brasil, via e-mail. “É vergonhoso emitirem uma circular dessas, sem pé nem cabeça. Baseado em qual lei foi redigido esse texto?” A coordenadora do Departamento de Trânsito da cidade, Rosana Cruz, explica que soube da circular somente ao ser questionada pelo Estado de Minas e se desculpa pelo ocorrido. “Foi uma atitude tomada pelo gerente do terminal, sem o meu consentimento, depois que alguns busólogos desrespeitaram guardas municipais e invadiram as plataformas e pista de rolamento para fotografar. O espaço é delimitado a qualquer usuário”, afirma.

Samantha é a única mulher a fazer registro de ônibus em Minas Gerais(foto: Arquivo pessoal)
Samantha é a única mulher a fazer registro de ônibus em Minas Gerais (foto: Arquivo pessoal)

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