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Engenheiro gaúcho cria protótipo elétrico para carregamento de lixo

Veículo facilita e dignifica lida diária dos catadores de papel. Parceria prevê produção em série

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Capacidade: Compartimento de carga mede 1,70m x 1,10m x 1,40m e leva até 500kg com agilidade no trânsito



Tudo começou com uma visita a um canil da cidade de Santa Cruz do Sul (RS), a 170 quilômetros de Porto Alegre, no início de 2011. Apaixonada por animais e preocupada com o trato dado a cavalos por alguns catadores de papel na lida diária (na região, alguns vão para canis receber cuidados), a publicitária Ana Paula Knak pediu ao namorado, o engenheiro de produção Jason Duani Vargas, que fossem constatar como eram tratados os cavalos que não mais participavam da coleta seletiva do lixo. “Vi como os cavalos e os cães eram tratados e depois soube que os cavalos apenas ‘descansam’ uns dias e depois voltam ao trabalho. E, além disso, como o depósito de lixo fica ao lado, começamos a conversar com dois catadores,”, relata Jason.

O peso na consciência virou ideal e Jason começou a batalhar para desenvolver um veículo que fosse útil aos catadores, facilitando seu trabalho e, ao mesmo tempo, “libertando” os cavalos. Com o apoio financeiro de uma influente família da região, o engenheiro criou um primeiro protótipo, mais semelhante a uma bicicleta. Jason também procurou a Cooperativa dos Catadores de Santa Cruz do Sul (Coomcat), apresentou a ideia e sugeriu que o veículo fosse testado pelos catadores. “Eu montava e eles aprovavam ou não. Foram três modelos até chegar a esse protótipo”, lembra. Protótipo que foi batizado de Cavalo de lata e apresentado em Belo Horizonte esta semana durante o Ciclo de Debates da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) 2013, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Chinês: Motor elétrico gera 5kW, ou 6,8cv de potência



ELÉTRICO A mudança mais significativa foi na maneira de conduzir. Desde o início pensado com motor elétrico, o projeto inicial tinha pedais como os de bicicleta e a ideia era que o motor fosse usado somente como um auxílio. “Enquanto pedalassem, a bateria estaria sendo recarregada. Só que percebi que eles não pedalavam e, portanto, não funcionaria dessa forma. Eles carregam muito peso, o trabalho é judiado. Era preciso pensar nisso”, diz Jason. Com os testes, o engenheiro também deu atenção à capacidade de carga. “O foco está no peso. Vi que não adiantava ter estrutura, motor e pneus que aguentassem 100kg ou 200kg. Eles precisam carregar muito peso. E, além disso, o veículo tem que ser ágil no trânsito, pois são cerca de seis idas e vindas em um dia”, acrescenta.

Suspensão: Independente na dianteira e feixe de molas atrás



O veículo foi então praticamente reconstruído, com mudança de toda a parte mecânica e gerando uma capacidade de carga atual de 500kg e velocidade que chega a 25km/h. Os pedais de bicicleta foram substituídos por acelerador e freio, ficando a maneira de conduzir semelhante a de um automóvel. Não há embreagem ou mudança de marchas, apenas para ré, o que é feito por meio de comando próximo ao banco do motorista. Para dar a partida é só girar a chave na ignição. O sistema de iluminação é o convencional, com faróis, indicadores de direção e luz de ré, tudo em LED. Os retrovisores são de Kombi. Os cintos de segurança, por enquanto, são do tipo subabdominal, mas já está programada a troca para os de três pontos. Jason procurou seguir as principais normas da legislação de trânsito, apesar de não ter conseguido ainda regulamentar o veículo, pois não há lei específica para “carros” do tipo.

Funcionamento: Com acelerador e freio, sem embreagem ou marchas



PILOTO Da maneira como ficou, o veículo ainda passará por um mês de testes em Santa Cruz do Sul, inclusive visando seu comportamento no mau tempo. Até o fim do ano, Jason espera que algumas unidades já estejam circulando na cidade não mais a caráter de teste, graças a uma parceria feita com a Coomcat, que arcará com a compra de um primeiro lote. Para a produção em série, ele conta com outra importante parceria feita com a empresa Marc’s Automação, com fábrica em Charqueadas a cerca de 60 quilômetros de Porto Alegre. Como está hoje, o preço estimado é de R$ 20 mil. A empresa tem como produzir uma unidade em quatro dias e tem espaço para construir uma linha de montagem à medida que o projeto der certo e houver demanda. A meta é a montagem de 20 unidades por mês. Para o catador, a agilidade ganha com o veículo significa, conforme cálculos junto à cooperativa, uma renda cerca de seis vezes maior do que a atual, que na região é de R$ 400 a pouco mais de R$ 1 mil por mês. A Prefeitura de Santa Cruz do Sul também apoia o projeto.

Partida: Pela ignição, como em automóvel convencional

Ficha técnica

Chassi: aço carbono
Dimensões (metros): Comprimento, 3,30; largura, 1,20; altura, 1,75
Compartimento de carga (metros): Comprimento, 1,70; largura, 1,10; altura, 1,40
Capacidade de carga: cerca de 500kg
Velocidade máxima: 25km/h
Peso: cerca de 280kg
Motor: elétrico tipo bruhsless DC (sem escovas) com potência de 5Kw e tensão de 48V. É importado da China e usado, por exemplo, em carrinhos de golfe
Baterias: tracionárias (quatro) com tensão de 12V e 150A
Autonomia: 60 quilômetros
Tempo de recarga: cerca de cinco horas acoplado em carregador (pouco maior do que o de um celular) que é ligado em tomada comum
Freios: disco na dianteira e tambor na traseira
Suspensão: dianteira, independente e feixe de molas na traseira
Assentos: banco duplo na dianteira com cinto de segurança
Iluminação: faróis, sinalizadores de direção e luz de ré, todas de LED
Pneus: radiais 145/70 aro 12

"Eu montava e eles aprovavam ou não. Foram três modelos até chegar a esse protótipo" - Jason Duani Vargas, engenheiro