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Coluna Aviação: Vasculhando o deserto

Com a saída dos Mirage, a defesa aérea brasileira ficará capenga

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Coluna Aviação: Vasculhando o deserto
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Até dezembro, a Força Aérea Brasileira vai desativar os Mirage 2000

Há quatro anos, o ex-presidente Lula, num rompante autoritário, anunciou que a compra das aeronaves de superioridade aérea da Força Aérea Brasileira (FAB) seria inserida no pacote de aquisição de material bélico francês. O Rafale seria adquirido desde que a França assegurasse a transferência total de tecnologia e a autorização para a sua fabricação na América do Sul.

Matreiro, ele pode ter se valido do contrato de construção de submarinos e da transferência de tecnologia para a Marinha do Brasil para fugir da responsabilidade de ter que definir o resultado de um processo de avaliação final das aeronaves de superioridade aérea, que tinha sido iniciado em fevereiro de 2009.

Estavam na disputa a americana Boeing, a francesa Dassault e a sueca Saab.

Conforme afirmara, a sua observação não encerrava a concorrência, mas a sua autoridade lhe permitia não seguir o parecer técnico.

Outra atitude do presidente foi transferir a decisão final sobre o reaparelhamento da Força Aérea Brasileira para o ano seguinte.

O resultado do certame internacional foi adiado para outubro de 2010, quando seria apresentado também o relatório de avaliação final da FAB.

Já em janeiro de 2010, a Força Aérea Brasileira divulgou o seu relatório final, colocando o avião JAS-39 Gripen, da Saab-BAE, como o mais adequado às suas especificações. O relatório da comissão não deixou de destacar que o modelo escolhido ainda era um avião virtual, que os demais concorrentes já estavam certificados e que, no caso do F/A 18 E/F, da Boeing, ele já havia sido testado em combates.

O fato é que o ex-presidente não definiu o resultado do certame, apesar do esforço de seu ministro da Defesa.

O problema foi transferido para a sua substituta, que, diante da situação econômica do país, colocou na geladeira a decisão sobre a aquisição de uma aeronave moderna de superioridade aérea. Por incrível que possa parecer, o componente político demagógico cega a autoridade de inferir os ganhos tecnológicos de uma decisão, cujos encargos financeiros não se manifestariam de imediato.

De empurra em empurra, em dezembro, a Força Aérea Brasileira será obrigada a desativar os seus Mirage 2000, adquiridos num contrato-tampão em 2005, jogando no lixo algumas centenas de milhões de dólares. O avião usado tem vida útil mais curta.

Como parece faltar sensibilidade ao governo para equipar a Força Aérea de um avião moderno e ainda em fabricação, técnicos da Força Aérea Brasileira mais uma vez se deslocam para o deserto do Arizona, próximo a Tucson, nos Estados Unidos, para avaliar as células dos F-16 C/D, Block 40/42, da Lockhead Martin, estocados na Base Aérea de Davis-Monthan. Mais uma vez, estamos buscando no deserto aeronaves usadas para tapar o buraco deixado pela desativação dos meios atuais de superioridade aérea (os Mirage 2000 e os F-5).

Os F-16 já estiveram na preferência da Força Aérea Brasileira nos anos 1980 com os seus modelos A e B. Mas, com todo o esforço canalizado para o desenvolvimento de seu produto de interdição e ataque ao solo juntamente com a Itália (o AMX), o namoro não vingou.

Ainda que se opte pelas versões C e D, as células estão defasadas ante as modernidades da guerra aérea e necessitarão ser revitalizadas, desfalcando o poder de nossa superioridade aérea, pois os seus Mirage 2000 serão desativados em dezembro deste ano e os F-5 começarão a ser aposentados em 2017. Não fora o rompante do ex-presidente Lula, o processo poderia estar concluído e evitaria a ida de técnicos da FAB ao deserto do Arizona em busca de produtos desatualizados e de vida útil mais curta.

BIRUTINHAS
TURBULÊNCIA Voando de Madri para o aeroporto de Guarulhos (SP), o voo JJ 8065 da TAM ingressou numa zona de turbulência severa, que o abrigou a fazer pouso de emergência no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza. Como sempre ocorre, os passageiros que estavam sem o cinto de segurança atado foram arremessados para o alto e tiveram que ser atendidos em hospitais da capital cearense.

ARBITRARIEDADE Num ato ilegal e discriminatório, o presidente da Infraero alijou os operadores de táxi aéreo de renovarem as suas concessões aeroportuárias de conformidade com o artigo 40 do Código Brasileiro de Aeronáutica. Possivelmente por pressão, ele revogou o ato arbitrário e discriminatório, mas se nega a fazer cumprir o artigo 40. Os democratas de plantão parecem sentir saudades de períodos passados.

A-1M Os aviões de ataque ao solo e de interdição, que foram desenvolvidos em conjunto com a indústria italiana, o AMX, estão sendo revitalizados e recebendo o nome de A-1M. Em solenidade no último dia 3, a Embraer entregou à Força Aérea Brasileira o primeiro AMX revitalizado. Os serviços estão sendo realizados na planta de Gavião Peixoto (SP), da Embraer.

VOE SEGURO A operação Voe seguro da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é de fato um ato que busca sanear o meio aeronáutico. Ela está sendo realizada nos estados do Amazonas e Pará e já interditou ou autuou 20 aeronaves. A Anac está trabalhando em conjunto com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), devendo atingir 14 aeródromos.

ANACpédia No dia 3 foi criada a ANACpédia, uma base de dados composta por glossários em idiomas estrangeiros. O glossário de termos técnicos da aviação civil, editados em português, inglês e espanhol, contém informações importantes sobre terminologia, tais como definições, referências, fontes e notas. A ANACpédia cumpre um compromisso assumido perante a Comissão Latino-americana de Aviação Civil (CLAC).