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Kombi Last Edition exibe visual retrô para virar peça de museu por R$ 85 mil

Conheça os detalhes da versão especial de despedida do carro. Design retrô agrada e remete à história do modelo. Condução é ágil para cidades, mas falta segurança. Preço salgado destina modelo a virar peça de museu

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Kombi Last Edition exibe visual retrô e história por R$ 85 mil
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

FIM DE LNIHA - Kombi se despede de produção em 2013


Giro a ignição e escuto o barulho seco e abafado do motor 1.4 refrigerado à água. A posição do volante é quase horizontal e a sensação é semelhante à de conduzir um ônibus. Puxo o freio de mão numa engrenagem que brota do assoalho do veículo, ao lado da alavanca de câmbio, onde engato a primeira das quatro marchas: estamos na cabine da Kombi Last Edition, versão de despedida do modelo, vendida por salgados R$ 85 mil. Se mecanicamente o veículo nada difere de sua irmã Standard, o utilitário azul e branco conduz a história da Kombi para a linha de chegada.

VEJA FOTOS DA KOMBI LAST EDITION!

São 56 anos de produção no Brasil, tempo mais que suficiente para ostentar o título de veículo de maior longevidade na indústria automobilística mundial. E o sucesso tem seu segredo: até hoje não inventaram um modelo capaz de carregar uma tonelada coberta com preço e manutenção tão baratos como a Kombi. A segunda geração do modelo foi finalizada em 1979 na Europa, onde já está na quinta geração.

Por aqui, a Kombi continuaria por mais tempo, se não fosse a legislação que exige airbag e freios ABS em todos os veículos fabricados a partir de 01 de janeiro de 2014. Economicamente inviável, a linha de montagem em São Bernardo do Campo se prepara para se despedir do modelo. O prefeito da cidade, Luiz Marinho, chegou a pedir em Brasília a continuidade do utilitário, mas sem sucesso.

Anunciada em agosto deste ano, a Kombi Last Edition teve produção limitada a apenas 600 unidades. O preço, superior ao da versão de entrada do novo Golf, por exemplo, não intimidou colecionadores e a produção teve que ser dobrada. O destaque fica por conta do visual retrô, com pintura saia e blusa, rodas com faixa branca e cortinas nas janelas.

Por dentro, bancos em vinil azul e branco, tapetes de carpete cinza (na versão Standart é de borracha). Há ainda uma etiqueta metálica com a numeração de cada uma das unidades. O proprietário leva, junto com o manual, um atestado de autenticidade. O porta malas também tem cobertura em carpete, onde é oferecida uma capa para guardar a preciosidade.

Veja vídeo com a Kombi Last Edition

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Sem direção hidráulica, ar condicionado, vidros ou travas elétricas, o mérito da perua está exatamente em sua simplicidade. Aos que reclamavam da ausência de tecnologia, a montadora equipou a velha senhora com um moderno sistema de som com luzes em LED´s e entradas USB e auxiliar, o mesmo aparelho usado no Gol e Fox, obviamente sem a opção de teclas no volante.

Kombi Last Edition tem preço sugerido de R$ 85 mil: demanda maior que a oferta



“Quando anunciamos a Last Editon foi um fenômeno mundial. Tivemos pedidos dos cinco continentes. No início acreditamos que 600 seriam suficientes, tivemos que dobrar e ainda temos demanda para muito mais. Isso justifica o preço mais alto que a versão branca; temos mais de 5 mil interessados. Mas, além disso, se você ver o equipamento e o amor que colocamos, justifica o valor”, afirma Jochen Funk, diretor da Volkswagen.

56 anos de produção: recorde mundial



No motor da Last Edition, o mesmo 1.4 EA111 flex da versão Standart, capaz de render até 78 cavalos com gasolina ou 80 cv com etanol. O torque da Kombi privilegia o transporte de cargas, com 12,7 kgfm com etanol, aos 3.500 rpm. A caixa é manual de quatro marchas. As dimensões e o espaço generoso também são os mesmos: Comprimento de 4.505 mm, por 1.920 mm de largura e altura de 2.040 mm. A medida entree-ixos de é fazer inveja a sedãs de luxo: 2.400mm.

O marketing da montadora alemã trabalhou para cativar fãs do modelo, com um hotsite especial e campanha publicitária para o “deslançamento” da Kombi. Entusiastas mandaram histórias, fotos e vídeos com o veículo que serão publicados num livro virtual. Nessa semana, um outro anúncio divulgou os últimos 15 pedidos da Kombi, agradecendo alguns fãs, em evento que será realizado no próximo domingo na fábrica no ABC Paulista.

Aos que reclamavam da ausência de tecnologia, sistema de som com luzes em LED...



A hora do adeus

Destinada a colecionadores, a Last Edition tem proprietários que gostam de manter o veículo guardado a sete chaves, rodando apenas em encontro de carros antigos. O Portal Vrum teve acesso a o exemplar 638/1200, oferecida pela concessionária Carbel de Belo Horizonte. O aspecto geral do veículo é bom. Exposta no show room no passeio atraía atenção, mesmo ao lado de Amarok, Jetta e novo Golf.

Cortinas personalizadas dão o maior charme ao modelo



A pintura em tom azul para a última série evoca os modelos fabricados até a década de 70. Embora a cor predominante da Kombi seja a branca, ela já foi produzida em larga escala com outras cores. Nas décadas de 1980 e 1990, era comum encontrarmos na concessionária, ao lado da branca destinada a empresas, modelos na cor bege. Em 1997, surgiu a versão Carat, incluindo a cor vinho na paleta. Mas até hoje podemos vê-la vestidas de cores diferentes, como o amarelo dos Correios (ou aquela versão picape da Elma chips, lembra?) e a azul escuro da Aeronáutica. A série prata, ganhou a pintura metálica nessa cor e outra ediçaõ especial, a 50 anos é vermelho e branco.

A avó pelo retrovisor



O pneus com faixas, rodas e calotas brancas, remetem ao passado, quando o carro ainda era sinal de glamour, especialmente no Brasil. Um dos maiores charmes são as cortinas cinza, com pregadores com o logo Kombi bordado. Os painéis de porta recebem acabamento azul.



No entanto, para uma série especial, a Kombi merecia mais: pequenos detalhes poderiam ser incrementados para justificar ainda mais o valor cobrado. As chaves, por exemplo, são convencionais pretas; até um Gol já conta com modelo tipo canivete. As duas fileiras de passageiros não têm apoio de cabeça e o teto não é integramente revestido, como acontecia nas versões Luxo do passado. A Last Editon conta com o único opcional disponível, desembaçado traseiro. Na unidade mostrada, o fio do sistema pendia na canaleta interna. Um descuido de acabamento mesmo com apenas 1200 unidades produzidas.

Ao volante, num curto trajeto, temos a grande vantagem da Kombi. A visibilidade do parabrisa é enorme, tanto que ganhou apelido de Bay Window ao ser lançada na Europa. A direção apresenta folga, defeito comum no veículo, e não tem assistência hidráulica: para manobrar exige força do motorista. Mas, após sair da inércia, garante boa agilidade, principalmente nos trânsitos urbanos – e em baixa velocidade. Ao pisar um pouco mais, a sensação de insegurança elevada, principalmente por não ter capô à frente.

Nenhuma alteração mecânica em relação à Standard



Os pedais emanam do piso e é necessário um movimento pouco comum, de cima para baixo. A suspensão transmite as irregularidades do piso. O banco do motorista é apoiado sobre o eixo dianteiro: uma solução inteligente para dividir peso do motor e condutor e deixar espaço livre para a carga. Mas ao passar em ressaltos, sente-se pular do assento. A ventilação é garantida com um vidro rebatido, item extinto nos veículos modernos.

Last Edition merecia uma chave melhor



Lado a lado de uma versão Standart, a Last Edition não exibe nenhuma melhora mecânica. O carro cumpriu sua missão como opção econômica para empresas. A Kombi azul e branca que encerra a fabricação do modelo, porém, carrega toda a história iniciada em 1950 com admiradores de várias tribos, surfistas, hippies, roqueiros, verdureiros, sacolões, famílias, vendedores...

Pagar R$ 85 mil em uma perua obsoleta pode parecer um absurdo, afinal, com esse valor, é possível comprar um novo Golf 0km, modelo que reúne os melhores aparatos tecnológicos da Volkswagen. Mas o sucesso dessa edição de despedida prova que, pelo mesmo valor, muita gente ainda prefere o saudosismo de uma época em que o bacana era ter um carro de duas cores e um rádio AM.

Motor é o mesmo 1.4 flex de 80 cv com etanol



História

A Kombi, produzida 100% no Brasil desde 2 de setembro de 1957, tem um recorde. A “Velha Senhora”, como também é conhecida, é o veículo com maior longevidade da indústria automobilística mundial. Em 1975, ganhou uma reestilização com mudanças na dianteira.

A segunda geração brasileira veio em 1997, equiparando-se com o modelo da década de 70 na Europa. Em 2005, abandonou o clássico motor refrigerado a ar e ganhou o atual 1.4 flex. De 1957 até julho deste ano foram produzidas 1.551.140 unidades na planta de São Bernardo do Campo. Atualmente, a Kombi tem valores a partir dos R$ 46,7 mil, preço imbatível contra as opções de outros fabricantes.

Rodas com faixa branca

Último beijo: líder no seu segmento, Kombi dá adeus