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Jornalistas do Vrum contam suas experiências com a Kombi

Depois de contar várias histórias de apaixonados por Kombi, chegou a vez dos nossos jornalistas contarem suas relações com a perua, que parou de ser produzida após quase 57 anos de fabricação nacional

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Jornalistas do Vrum contam suas experiências com a Kombi
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação



Thiago Ventura

Carro para levar a noiva para a Igreja: Kombi. Bem essa é a minha interpretação da escolha perfeita para um casamento. Mas para minha noiva não... Mesmo com toda a paixão pela Kombi, de forma alguma conseguia convencer a moça a subir ao altar a bordo de uma. O jeito foi arranjar um plano secreto: trocar o moderno sedã que ela chegaria à igreja por uma Kombi clássica!

Combinei com meu futuro sogro e amigos e elaborei a estratégia. No meio da cerimônia o Civic seria substituído pelo utilitário. Se ela não quis chegar na Igreja no meu carro favorito, seria na Volkswagen o primeiro passeio como casada!

 

Veja fotos da Kombi usada no casamento!

 

No sábado decisivo, organizei um "Dia do Noivo": convidei os amigos para uns drinks e fazer uma corrente de latinhas de cerveja, além de outros adereços para a Kombi. Uma colega designer fez um criativo cartaz "Recém-casados" no formato do carro. Todo mundo sabia do plano, menos a noiva.

De noite, enquanto a cerimônia e a emoção corriam a todo vapor, o Civic foi trocado por uma Kombi amarela, 1975, linda, pintura saia e blusa, com direito a bancos de couro e teto solar. Placas personalizadas, balões, fitas e as latinhas completavam a decoração festiva.

Na saída da igreja... foi aquela surpresa! Muitos acreditavam em pedido de divórcio ali mesmo. Mas que nada: a noiva adorou, houve palmas e muita alegria. Após a cerimônia, uma carreata de parar o trânsito, é claro, liderada pela Kombi. Até hoje nosso casamento é um dos mais comentados e elogiados entre amigos e família e já foi parar até numa reportagem de TV.

 

Marcello Oliveira

 

Confesso que nunca fui um entusiasta da Kombi que, pra mim, era um veículo como outro qualquer porém, um pouco esquisito pela exagerada forma quadrada. Mas nos últimos meses, temos falado tanto de Kombi que parei para refletir qual era a minha relação com este 'pão de forma', tão comentado por sua morte após quase 57 anos de produção no Brasil. Aí veio uma sensação saudosista, bem a cara da Kombi mesmo e percebi o quanto divertida ela foi pra mim.

Nunca tive uma Kombi, nem meus pais, mas o meu primeiro contato com ela foi ainda quando criança, sem nenhum critério para avaliar o que era um bom carro. Mas a primeira impressão da kombosa foi ótima. Eu estava na 4ª série e um exemplar da versão Escolar, de cor bege, me levava ao colégio todos os dias. O primeiro sentido a entrar em ação foi o olfato, pois aquele cheiro característico do courvin me chamou muito a atenção. Aos 10 anos de idade, aquele cheiro me fazia voltar alguns anos no tempo, me lembrando do Fusca que uma tia teve quando eu mal sabia andar e de uma velha Brasília de uma amiga de minha mãe. Apesar disso, era perceptível que eu estava abordo de uma 'perua' novinha em folha, modelo 1997, provavelmente uma das últimas com as portas traseiras que se abriam para fora (ainda no modelo 97, a Kombi passou a ter a porta de correr). Aquele trabalho escolar que não deu tempo de terminar em casa, era finalizado na Kombi, ou pelo menos tentava terminar lá. A dona do veículo escolar instalou um CD player que tocava os hits da segunda metade da década de 1990 e até hoje, quando ouço algumas dessas músicas, me vem à mente a tal Kombi creme.

Alguns anos depois, já quase terminando o 3º ano do Ensino Médio, volto a encarar a Kombi novamente, desta vez na condição de motorista. Eu havia acabado de conseguir minha carteira de habilitação, era completamente 'cru' no trânsito, mas em uma manhã de sábado, eu precisava ir até a aula de inglês. Geralmente ia de carona ou pegava o carro do meu pai ou da minha mãe emprestado - pois não ainda não tinha carro próprio -, mas nesse dia fui de Kombi. Um tio era diretor de uma locadora de veículos para empresas e órgãos públicos e um dos clientes pediu uma frota de Kombi 0km, modelo 2005. Enquanto aguardava sua vez de iniciar os trabalhos, umas das peruas ficou na garagem da minha casa. Nesse dia, ao chegar na garagem, lá estava ela, toda branca e reluzente ocupando toda a entrada. Peguei a chave para manobrar aquele trambolho que já estava me atrasando e consegui colocá-la em movimento sem nenhum problema, parecia que já era algo habitual para mim. Achei divertido e pensei: “vou para a aula de Kombi”. O porteiro da escola de inglês ficou olhando meio abobado enquanto eu estacionava uma Kombi exatamente na porta de entrada dos alunos. Obviamente que na saída, meus colegas me bombardearam de perguntas sobre aquele 'disco voador' branco em que eu cheguei e acharam o maior barato.

Com 18 anos e poucos carros no 'currículo', elegi a Kombi como o melhor veículo para dirigir. Sim, me senti melhor nela do que em Palio, Siena e Golf. Era tudo muito divertido na Kombi, a posição elevada para guiar, o volante praticamente deitado sobre o painel e os pedais que brotavam do assoalho. Depois disso, só voltei a dirigir Kombi no mês passado, ao fazer o teste em uma Last Edition e senti falta daquele barulhento motor refrigerado a ar. Assim como tudo na vida, a Kombi também vai evoluir, prefiro não pensar em sua morte, mas sim em uma nova van que deverá vir por aí, quem sabe com a responsabilidade de carregar o nome Kombi.

André Almeida

 

Falar da Kombi, me faz lembrar o primeiro carro que dirigi depois de tirar a CNH. O que já foi o meu primeiro desafio: sair de um Fiat Palio com um instrutor do lado, para pegar essa “Velha Senhora”, com dimensões e dirigibilidade totalmente diferentes. A cada saída da garagem, uma aventura. Mas não posso reclamar. “Ela” foi bem paciente e companheira nos três anos de convivência.

A minha relação com uma Kombi 1994, com dupla carburação e refrigeração a ar, começou quando o banco do passageiro era o meu lugar cativo. Ajudei o meu pai em inúmeros carretos pela grande Belo Horizonte. De geladeira a motocicleta. Nada que a retirada dos bancos, uma boa corda e grandes doses de criatividade não resolvessem. Depois de um ano como o único motorista da “Kombosa”, meu querido pai faleceu e, acabei assumindo o seu posto atrás do volante.

Com a CNH em mãos, mas ainda no período de experiência, comecei como perueiro. Semanas antes dos conflitos entre perueiros, a polícia e a prefeitura ganharem as páginas dos jornais. Na segunda corrida do dia, por volta das 06:30 da manhã já fui parado por alguns “companheiros” que ameaçaram quebrar a minha Kombi se eu não me adequasse aos horários propostos por eles e se não contribuísse financeiramente pela “causa” do transporte clandestino. Fiz mais três viagens nesse dia e nunca mais voltei.

Resolvi então voltar para o carreto. Coloquei um suporte de teto e fui à luta. Nessa nova empreitada, descobri que ter uma Kombi é ser solidário, ou trouxa. O interfone da minha casa não parava de tocar. No início achei que poderia ficar rico. Mas, o sonho durou pouco. A maioria dos amigos, vizinhos, familiares sempre acreditavam que com R$ 10, 00 eu podia fazer os carretos de móveis, pessoas, etc. Sempre diziam, “ é no bairro mesmo”, “é logo ali”, “você não vai gastar nada de combustível”. Nem preciso dizer que essa vida de carreteiro não durou muitos meses.

Como perueiro fui ameaçado. Como carreteiro fui explorado. Me peguei então em um dilema: vender ou não a Kombi que tanto lembrava meu falecido pai. Resolvi dar mais uma chance pro “pão de forma”, e embarquei na política. Ou melhor, a política embarcou comigo. Peguei um bico de transporte de planfeteiros e afixadores de cartazes. A grana era boa, trabalhava de dia e de noite sem reclamar. E a minha companheira de trabalho aguentou bem o “trampo”. Espaçosa como o coração de uma mãe, sempre cabia mais e mais pessoas. Ainda bem que não fui parado em nenhuma blitz. Teriam que chamar outra Kombi para dividir os passageiros.

Passado o período eleitoral, voltei a estaca zero. Enquanto não a vendia, a minha Kombi se transformou no veículo oficial para as festas em família. Fazia uma verdadeira via-sacra pegando parentes para levar aos encontrões nas datas especiais. Vez ou outra levava uma banda de rock de um amigo para tocar em algum bar, e já cheguei a ficar preso em uma garagem de motel, por causa do suporte de teto. O tempo passou e vendi a minha companheira de aventuras. Mas até hoje guardo os momentos engraçados e felizes que passei a bordo deste veículo “pau pra toda obra”.