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Ônibus da capital circulam com cor diferente do determinado para a linha

Medida anda confundindo usuários e empresas justificam que o problema é causado por veículos avariados e reestruturação da frota devido ao BRT/Move

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Linha 9250, de alta demanda de passageiros, tem o laranja como cor oficial, mas também circula com unidades azuis e verdes




13h. Trânsito intenso. Uma senhora corre para não perder o ônibus, na Rua Pouso Alegre, Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte. Quando chega perto, a decepção. Ela esperava pegar um veículo da linha 8150 (União–Serra), que é da cor laranja, o único dessa tonalidade daquele ponto. Quando avistou o ônibus da cor, correu. Mas naquela hora era outro coletivo que “vestia” o laranja. A solução foi sentar, descansar e esperar. Com a dona de casa Maria Hortênsia, em um ponto da Avenida do Contorno, também na Região Leste, aconteceu o contrário. Ela esperava o SC01B (Circular Contorno B). Veio um ônibus azul. Continuou assentada. Depois que o ônibus arrancou, percebeu que era o seu, que deveria ser amarelo. Tentou correr, fazer sinal, era tarde demais. Maria Hortênsia e a outra senhora foram enganadas pela cor. Situação corriqueira para quem depende do transporte coletivo da capital mineira.

A pintura padrão dos ônibus de BH – que desde a década de 1980 é referência para os usuários – é pioneira em grandes cidades do Brasil, ao lado de Curitiba. O início da implantação foi em 1982, pela então Metrobel, com os tons azul (bairro a bairro, passando pelo Centro), amarelo (linhas circulares que passam pelo Centro) e vermelho (localidades distantes até o Centro). Em 1998, quando o sistema foi restruturado com o projeto BHBus, foram acrescentadas as cores branco (linha retorno ao Centro/já extinta), laranja (bairro a bairro, sem passar pelo Centro) e verde (linhas troncais interligando terminais/bairros ao Centro; localidades distantes até o Centro, em substituição aos vermelhos). E ano passado foi acrescentado o sistema Move (nas cores cinza e verde-limão para as linhas de BH). Ou seja: hoje circulam ônibus azuis, amarelos, alaranjados e verdes, além dos do transporte rápido por ônibus (BRT). A referência entre a cor e a numeração, no entanto, não tem mais surtido efeito, já que a eventualidade de se travestir um coletivo de uma cor em outra – prática conhecida nas garagens de empresas de ônibus como enxerto – se tornou lugar-comum.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) sustenta que trocar a cor do ônibus não é o ideal, mas tem sido a “solução” devido ao grande número de coletivos que precisam ser substituídos em razão de depredação. Segundo o sindicato, se não houver um veículo no pátio do consórcio responsável pela linha da mesma cor do avariado, é feita uma solicitação à BHTrans para que o ônibus circule com tonalidade diferente durante um determinado período de tempo, que varia de acordo com a situação (os problemas vão desde um vidro quebrado a casos de incêndio por vandalismo). Nesse caso, além da mudança natural de itinerário e número na parte da frente e na lateral do veículo, é necessário que a placa contendo o número mantenha a cor original. O Estado de Minas observou, contudo, que os critérios de identificação não são sempre respeitados.

A assessoria do Setra-BH informa ainda que está fazendo um levantamento junto aos quatro consórcios operadores (BH Leste, Dez, Pampulha e Pedro II, que reúnem as 39 empresas), na tentativa de avaliar o número de carros depredados. Até o fechamento desta edição, apenas seis empresas tinham respondido ao questionário. Dessas, 113 ônibus precisaram sair de circulação em 2015 – contra 523 em todo o ano passado. O sindicato não soube precisar quantos ônibus e em quanto tempo voltaram ao trabalho.

FISCALIZAÇÃO
O tipo e a cor dos ônibus são regulamentados pelo Decreto Municipal 13.384/08, mas a BHTrans, empresa que gerencia o transporte e trânsito da capital, afirma que não há orientação no sentido de se usarem cores diferentes para uma mesma linha. A BHTrans ressalta, contudo, que o sistema passou por uma grande mudança de frota com a implantação do BRT/Move, que reestruturou grande parte da rede de transportes da cidade. Sendo assim, admite que é natural que as concessionárias tenham dificuldade na alocação de frota, “principalmente nesse período de inserção de novos veículos e remanejamento de outros na operação das linhas”. A empresa acrescenta os casos de vandalismo, em especial, em dias de jogos de futebol importantes, e admite que autoriza temporariamente o uso de cores diferentes para que o usuário não fique desatendido e o quadro de horários da linha seja cumprido. A autorização não exime a concessionária de manter atualizadas as informações de número, descrição da linha e itinerário.
A fiscalização é feita por agentes e, em caso de descumprimento sem autorização prévia, há multa de R$ 103,51.

Análise da notícia

Escala conforme conveniência

Não é de hoje que a prática do enxerto é recorrente no transporte coletivo de BH. Há empresas que o fazem comumente e sem cerimônia desde a década de 1990. O problema é que a BHTrans afrouxou e deixou de lado a fiscalização antes mesmo da implantação do BRT/Move. Consequentemente, as empresas têm escalado os ônibus conforme a conveniência (disponibilidade e logística da frota). A identificação por cores, que deveria ajudar o usuário, acaba confundindo-o. Entre 2013 e 2014, houve até um certo lobby com a renovação de frota apenas com ônibus azuis, que se tornariam padrão. A pressão dos empresários ficou por aí. A BHTrans estuda agora um novo leiaute para o transporte convencional, o que só deverá se concretizar em três ou quatro anos (a atual pintura é datada de 2008, quando houve a última renovação de contrato das linhas). Enquanto não se resolve o imbróglio, o usuário paga a conta. Mais uma vez. (B.F.)