Quem acompanha a evolução do mercado automotivo no Brasil deve ter notado que o segmento dos sedãs médios ganhou ares mais premium. É como se o tal “raio gourmetizador” tivesse atingido os modelos de três volumes no país, o que resultou em carros melhores, é verdade, mas também fez os preços atingirem patamares que impedem o cliente que quer gastar na casa dos R$ 60 mil de ter um sedã médio em sua garagem.
Quem precisa de um bom espaço interno e um grande porta-malas e não tem R$ 80 mil, R$ 90 mil ou até mais de R$ 100 mil para gastar nos badalados Toyota Corolla, Honda Civic e Chevrolet Cruze tem que se contentar com um sedã pequeno (ou compacto), segmento que cresceu muito no país e oferece carros partindo dos R$ 40 mil.
Testamos dois modelos desta categoria que, apesar de nunca terem deslanchado nas vendas, evoluíram muito e se tornaram opções interessantes, principalmente no quesito custo/benefício. Não se trata de um comparativo. Até porque, são versões bem diferentes dentro um mesmo segmento, mas que atendem a basicamente o mesmo público.
Patinho feio
Vamos começar avaliando o Etios Sedã, modelo que sempre correu por fora no concorrido mercado liderado por Prisma e Grand Siena. Mesmo tendo a chancela da Toyota, o compacto que nasceu na Índia não conseguiu encantar os brasileiros pelo visual. Enquanto seus rivais tomaram banho de loja e modernizaram o estilo (Cobalt, Logan e Versa), o Toyota segue seu jeitão meio “sem sal”.
A marca japonesa está ciente desse ponto desfavorável e aposta em atributo forte, como a confiabilidade do conjunto mecânico, que tem fama de não quebrar (e não quebra mesmo).
A versão de entrada que testamos não pode ser chamada de “pelada”. Partindo de R$ 54.550, ela vem equipada com motor 1.5L de 107 cv de potência e câmbio automático de quatro velocidades. No interior, o acabamento interno segue sendo um dos pontos fracos do modelo. Verdade que já evoluiu bastante se comparado ao que era em 2012, quando o Etios chegou ao mercado nacional. O painel de instrumentos segue na posição central (vai entender!), mas agora é digital e possui computador de bordo. Além disso, vem com equipamentos básicos, porém importantes, como ar-condicionado, vidros elétricos nas quatro portas e direção elétrica.
Mas, sem dúvida, o maior atrativo desta versão é o câmbio automático. Mesmo sendo uma caixa antiga, que equipou o Corolla por muitos anos, a transmissão “casou” muito bem com o motor 1.5 litro. As mudanças de marcha são suaves têm uma relação que privilegia a eficiência.
Testamos o Etios na cidade e também na estrada. Foram quase 1.000 quilômetros com o Toyota e a sensação de segurança que o conjunto mecânico passa faz você esquecer a falta de atributo visual do sedã compacto. As acelerações e retomadas são boas e o carro não sente falta de fôlego quando está com o ar-condicionado ligado e levando mais de um passageiro. Além disso, tem a questão do espaço interno generoso para as pessoas e, principalmente, para a bagagem nos seus 562 litros de capacidade.
Cisne Negro
O Versa também nasceu um “patinho feio” e sempre apostou no custo/benefício para se manter no mercado. Entretanto, a Nissan deu uma bela repaginada no design com a nova identidade visual da marca, presente no médio Sentra e no grande Altima. O Sentra ganhou volume e requinte. Tem ainda a vantagem de oferecer uma versão de entrada com motorização de um litro por R$ 48.490, mas que também não é “pelada”.
Testamos a versão topo de linha chamada Unique, que custa R$ 67.940. É puxada pelo motor 1.6 de 111 cv de potência e equipado com câmbio automático do tipo CVT. É um conjunto interessante, mas que não passa a mesma firmeza do Etios. Na cidade, a transmissão contínua segura bem a onda. É muito confortável - uma vez que não tem mudanças de marcha - e responde bem nas saídas. Acelere fundo e o motor 1.6 vai se comportar como um 2.0 litros
O problema é na estrada. Rodamos mais de 600 km com o carro e pudemos conferir alguns problemas. O principal dele está no ruído do motor, que invade (e muito) a cabine. Como a transmissão contínua faz o propulsor trabalhar em altas rotações, o “grito” do conjunto mecânico supera até mesmo o som que sai dos alto-falantes do bom sistema de áudio equipado no carro. A Nissan precisa dar uma atenção maior no isolamento acústico do modelo. No Sentra, que também é CVT, se escuta muito pouco o grande motor 2.0 no interior da cabine.
Já no quesito entrega de equipamentos o Versa Unique dá um show. É o famoso “completão”. Além do básico, ele vem com ar-condicionado digital, bancos em couro de boa qualidade, carpetes personalizados e sistema multimídia com tela sensível ao toque. São atributos de sedã médio.
O espaço interior é ainda melhor do que no Etios para os passageiros, mas perde no porta-malas (460 litros).
Mais prático
Em dias de trânsito pesado, após horas de trabalho exaustivo, um carro com câmbio automático é muito mais prático e confortável que os veículos com câmbio convencional. Testado pela repórter Thainá Nogueira por muitos de quilômetros de trânsito intenso nas ruas do Recife – para não dizer caos -, o novo Etios representa um alívio em questão dirigibilidade e leveza nas ruas. De acordo com um levantamento feito pela Easy Carros, este ano, 51,86% das buscas por veículos são por aqueles com câmbio automático ou automatizado. Para se ter uma ideia, em janeiro de 2010 este índice era de 23,65%. As estatísticas representam bem a tranquilidade que é dirigir sem muitas preocupações com o pedal de embreagem. Em linhas diretas: um carro com acabamento simples e que dispensa o luxo, mas garante um alívio na hora da direção, resume bem o novo Etios.