Feliz é o consumidor que está querendo comprar um crossover e tem cerca de R$ 90 mil para gastar. Nenhum outro segmento do mercado nacional disponibiliza tantos produtos de qualidade nesta faixa de preço do que os SUVs compactos urbanos. Honda HR-V, Jeep Renegade, Peugeot 2008, Mitsubishi ASX, Chevrolet Tracker, além dos mais baratos, como Ford Ecosport e Renault Duster. Não vamos dizer aqui qual o melhor, pois todos têm seus atributos e defeitos. A escolha deve ser feita pelo cliente após test drive em pelo menos metade dos modelos citados, para que o arrependimento não estacione na sua garagem todos os dias.
Já testamos os modelos deste segmento, inclusive o Kicks, que tivemos um contato rápido durante o lançamento na véspera dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro. Agora, pudemos avaliar melhor o crossover da Nissan no Recife. Testamos no asfalto, na areia e até na lama (veja o vídeo de nossa aventura no QR-Code nesta página). Não tivermos pena de sujar o belo desenho do Kicks. A proposta da montadora é sim de um carro urbano para o dia a dia. De segunda a sexta-feira, a rotina do trabalho, da escola, filhos e supermercado. Nos finais de semana, dê adeus ao asfalto e se divirta numa trilha leve, no caminho de uma praia deserta ou de uma fazenda distante. O Kicks não vai reclamar. Aliás, você deve ter notado que colocamos duas fotos mostranto a frente do carro na página, algo bem incomum. A ideia foi mostrar que mesmo no limpinho no asfalto ou sujo na lama, o crossover da Nissan é um colírio para os olhos de aficionados por carros.
E para provar que não é só um “rostinho bonito” a Nissan deu ao Kicks um interior de carro premium. Vale ressaltar que, por enquanto, a montadora disponibiliza apenas a versão SL, que é a topo de linha, com todos os equipamentos possíveis. Isso justifica o capricho no acabamento e o preço (bem salgado) de R$ 90 mil. Os japoneses deveriam se apressar para trazer versões mais baratas, na casa dos R$ 70 mil, para que o Kicks não seja apenas um carro de imagem da marca. A promessa é que no ano que vem cheguem os modelos mais baratos.
A lista de equipamentos de série da versão topo do Kicks é, provavelmente, a melhor do segmento nesta faixa de preço. A Nissan até inovou ao incluir o mimo tecnológico da visão 360º que o motorista tem do exterior do carro na hora de estacionar. Quatro câmeras (nos retrovisores laterais e nos para-choques traseiro e dianteiro) geram imagem, ao mesmo tempo, de todos os ângulos do crossover e, aliados aos sensores, tornam a missão de estacionar o Kicks numa moleza.
Destaque também para a central multimídia com tela sensível ao toque, que inclui navegador GPS e um sistema de som de qualidade. Tudo muito fácil de usar. Ponto positivo também para o acabamento em couro dos bancos e do console, com costuras realçando o capricho que a montadora teve. Outro mimo interessante é uma segunda tela que surge no painel de instrumentos quando o carro é ligado. Posicionada ao lado do velocímetro, nela é possível escolher entre um belo conta-giros digital, informações do computador de bordo, orientação do GPS ou reprodução da mídia que está tocando no sistema principal.
Anda bem na cidade, mas poderia ser melhor
O Kicks é puxado por um motor semelhante ao do Renault Duster (as duas montadoras fazem parte de uma aliança). Trata-se de um 1.6 litro flex de quatro cilindros e até 114 cv de potência. Pelo porte do crossover, a primeira impressão - antes de dirigir - era que o propulsor são teria força suficiente para dar um bom desempenho ao modelo. Mas é aí que entra o trabalho eficiente do câmbio Xtronic CVT. A caixa automática distribui bem os 15,5 kgfm de torque e deixa o carro de 1.142 kg com o aspecto leve de um compacto.
Verdade que a transmissão CVT privilegia o conforto na cidade. Na estrada, o câmbio às vezes fica um pouco indeciso, principalmente nas retomadas. Um tanto mais de potência daria fôlego maior na estrada e deixaria o Kicks bem mais divertido nas viagens.
O acerto da suspensão é muito bom. Foi conseguido um equilíbrio entre conforto na absorção de impacto e segurança nas curvas. O Kicks inclina pouco - levando em consideração que é um carro alto.
O resumo da obra é que a Nissan acertou e deverá se destacar no concorrido segmento. Principalmente quando trouxer versões mais baratas, com menos mimos. Dá para tirar a câmera 360º, trocar o ar-condicionado digital por um analógico, bancos de tecido ao invés do couro e um sistema de som “normal” sem tela multimídia. Com essas mudanças, é possível oferecer um bom crossover na faixa dos R$ 70 mil e disputar a liderança - ou o lugar mais alto do pódio - e levar a medalha de ouro.