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Insegurança - O pior carro do Brasil

Se por desatino, algum lanterneiro de fundo de quintal se unir a um mecânico sem juízo e juntos decidirem construir um veículo por conta própria, a dupla pode chegar ao pior carro do Brasil. Basta para isso comprar as peças separadamente, em ferros-velhos e revendas autorizadas e, com muita criatividade, conseguir misturar partes de veículos de segmentos e marcas distintas. Entretanto, para cumprir a surreal tarefa, a dupla teria que ficar atenta às reclamações recebidas pelo caderno de Veículos do Estado de Minas e pelo Vrum e aos anúncios de recall das montadoras.

BASE
A tralha teria como base o monobloco do Volkswagen Gol, geração II, o Gol bolinha, que apresentou trincas na parede de fogo, a divisão do compartimento entre o motor e o habitáculo. Para não perder a linhagem VW, a dupla pode cortar daqui e dali e encaixar a carroceria dos primos Logus e Pointer, da Autolatina, antiga união de Volkswagen e Ford, que quando havia torção da carroceira o vidro traseiro se soltava.

ESTAMPA
Na dianteira, o ideal é o pára-choque que equipa os modelos, Palio e Idea, da Fiat, que descascam após poucas semanas de uso. A montadora até assumiu o problema, mas deficiências com a reposição do estoque fazem o cliente esperar até um mês por um que preste. Dando continuidade aos retoques de lataria, duas opções são as maçanetas do VW Golf e dos Ford Fiesta e EcoSport, frágeis e fáceis de arrombar.

FORÇA
Para fazer o bólido se mover existem várias opções de motores, todos fundiam com cerca de 40 mil quilômetros: da VW Kombi a diesel do início da década de 80, do Chevrolet Monza da mesma década e os propulsores 1.8 da Autolatina. Para segurá-lo, o ideal são os coxins do Ford EcoSport, tão frágeis que deixam o motor cair no chão.

CAIXA
O câmbio ideal é o do Fiat 147, prosaico a ponto de deixar o motorista com bursite, tão grande é a dificuldade de encaixar as marchas. Já para o disco de freio existem várias opções: a da linha Toyota comercializada no Brasil e do Palio.

Ambos os discos empenaram quando passavam em poças d’água. O que não é nada adequado para um país tropical.

JEITO
Para completar o exterior desse automóvel - se é que pode ser chamado assim - o estepe ficaria sob o assoalho. Modelos com suporte assim não faltam entre os nacionais e os fabricados no Mercosul : Ford Ka e Ranger; Citroën Picasso; Peugeot 206; Fiat Palio Weekend; Chevrolet Zafira, S10 e Blazer; Nissan X-Terra; Toyota Hilux e SW4.

INTERIOR
Quando a tarefa é equipar o interior, o desafio também não é complicado. Para coluna de direção pode-se escolher a do VW Gol ou a do Chevrolet Prisma, que são desalinhadas em relação aos pedais. Entretanto, se a intenção for gastar menos, pode-se ir a um ferro-velho e comprar a coluna de direção de um Chevette, que padece do mesmo mal.

DIREÇÂO
Quanto ao volante, a gama de problemas é imensa: existe o do Fiat Idea, que é torto, e há ainda o recorrente problema em diversas montadoras, que apresenta desgaste prematuro e provoca esfarelamento com pouco tempo de uso. A vantagem, nesse caso, é levar um volante da Fiat, pois foi a única que assumiu o problema e o troca gratuita.

ERGONOMIA
Se a opção for por vidros elétricos, os controles ideais são os dos franceses - Peugeot e Citroën - que insistem em instalar os dispositivos no painel ou próximos ao freio de estacionamento, dificultando o acesso - erro grave de ergonomia. Para fechar esse exemplo de como não se projetar um veículo, instale os encostos de cabeça do Celta, que não podem ser ajustados de acordo com a altura do passageiro, pois são costurados no banco, aumentando o risco de lesões, em caso de acidente.
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