Ao ler a parte sobre óleo lubrificante para o motor no manual do proprietário de um veículo da Honda, o dono vai encontrar a seguinte recomendação: usar óleo que cumpra as especificações SAE 10W30 e API SL e que tenha base mineral (veja quadro). A julgar pela exigência da base, o proprietário do carro poderia até comemorar, pois geralmente os óleos de base mineral são bem mais baratos que os óleos de base semi-sintética e sintética, que levam aditivos e são, teoricamente, melhores a longo prazo (veja quadro). Mas, na prática, não acontece isso.
O óleo recomendado pela marca japonesa foi desenvolvido, dentro de um acordo comercial, sob encomenda pela Texaco, que hoje pertence ao Grupo Chevron Brasil Lubrificantes, e somente é comercializado com a marca Honda na embalagem, tanto na rede de concessionários como nos pontos de troca. Trata-se do único lubrificante do mercado brasileiro com essas especificações (SAE 10W30 e API SL) e base mineral. O proprietário de um Honda nacional (Civic, City ou Fit) até encontra óleos com a mesma especificação (SAE 10W30 e API SL), mas com base semi-sintética, que, em tese, seria bem melhor para o motor. Mas, diante da ameaça de perda da garantia do motor, preconizada no manual, o dono do veículo acaba sendo obrigado a usar somente o óleo Honda, produzido pela Chevron.
FORÇADA
A fidelização forçada vale também para a política de preço, pois nas concessionárias da marca japonesa o litro do lubrificante Honda custa em média R$17 e nos pontos de troca R$ 29. Se o dono do carro pudesse usar um óleo semi-sintético (os sintéticos são muito mais caros e não compensariam) com as mesmas especificações pagaria quase o mesmo preço cobrado nas concessionárias (em nossa pesquisa em 10 pontos de troca, encontramos óleo Valvoline SAE 10W30 e API SL por R$ 20 o litro), sem ter que ser obrigado a se deslocar até a revenda. Imagine o proprietário que mora a 100, 200 quilômetros de um concessionário?
Na opinião de especialistas, a exigência da base mineral não faz sentido.
PESQUISA
A Honda se defende, alegando que levou anos de estudo e pesquisas para identificar a melhor especificação do lubrificante, levando em conta não apenas o motor novo, mas também a manutenção do desempenho e do rendimento com o passar dos anos. De acordo com o supervisor de relações públicas da Honda South America, Alfredo Guedes, a fábrica não é contra o semi-sintético, e reconhece suas qualidades, mas ressalta que o processo de homologação, do óleo e do fornecedor, inclui exaustivos testes e que o mineral se mostrou mais adequado aos modelos da marca no Brasil.
Mas os donos de Civic, City ou Fit nacionais não precisam temer a ameaça de perda de garantia em caso de usar outro óleo com as mesmas especificações. Para o advogado Gustavo Americano Freire, do escritório Silva Freire, a atitude da Honda vai contra o que estabelece o artigo 6°, IV, do Código de Defesa do Consumidor, que dispõe que é direito do consumidor a proteção contra métodos comerciais coercitivas ou desleais, bem como práticas e cláusulas abusivas. Em casos como esse, os tribunais enquadram esta situação nesse dispositivo e declaram nulidade da cláusula que obriga o consumidor a utilizar determinado óleo.
Classificação e tipos de óleo
CLASSIFICAÇÕES
SAE
Estabelecida pela Sociedade dos Engenheiros Automotivos dos Estados Unidos (Society of Automotive Engineers), ela classifica os óleos lubrificantes pela viscosidade, que é indicada por um número. Quanto maior esse número, mais viscoso é o óleo.
API
Desenvolvida pelo Instituto Americano de Petróleo (American Petroleum Institute), também dos Estados Unidos, ela se baseia no desempenho dos óleos lubrificantes, ou seja, no tipo de serviço ao qual a máquina (não é apenas para motores automotivos) estará sujeita. A classificação para os carros de passeio é representada por duas letras, sendo que a primeira (S) significa service station e a segunda representa, em ordem alfabética uma evolução de desempenho, conseguida com aditivos. Ou seja, a SJ é superior à SH, assim sucessivamente.
ACEA
Classificação mais moderna e exigente, estabelecida pela associação dos construtores europeus de automóveis (Association des Constructeurs Européens de lAutomobile), que associa alguns testes de classificação API, ensaios de motores europeus (Volkswagen, Peugeot, Mercedes-Benz etc.)e ensaios de laboratório.
TIPOS DE ÓLEO
O lubrificante é composto por óleos básicos e aditivos. A diferença está no processo de obtenção de óleos básicos.
Mineral - São obtidos a partir do petróleo bruto, na separação de seus componentes, com acréscimo de aditivos.
Semi-sintéticos - Empregam uma mistura em proporções variáveis de básicos minerais e sintéticos, buscando reunir as melhores propriedades de cada tipo, associando a otimização de custo, já que as matérias-primas sintéticas têm custo muito elevado. São recomendados para motores mais potentes e que atingem um nível de rotação acima da média. Por terem menor quantidade de compostos de carbono mineral, provocam menos carbonização das câmaras de combustão, o que facilita a entrada e saída de gases de admissão e escape, além de evitar problemas de batidas de pino.
Sintéticos - Esses óleos são obtidos por reação química, possibilitando dessa forma maior controle em sua fabricação e permitindo a obtenção de vários tipos de cadeia molecular, com diferenças nas características fisico-químicas, sendo, por isso, mais puros.
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