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Fiat pode ser denunciada por recall não efetivo para o Freemont e Dodge Journey

Ministério Público investiga defeito alvo de recall da Chrysler em 2011, que persiste em modelos fabricados posteriormente. Marca se limita a dizer que está atendendo clientes

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Fiat pode ser denunciada por recall não efetivo para o Freemont e Dodge Journey
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Geraldo César Pinheiro teve seu Dodge Journey trocado por problema no freio, também detectado no novo


O Procon do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) apura denúncia do administrador Geraldo César Pinheiro, que mora em Belo Horizonte e, desde 2011, passa por um verdadeiro calvário tentando uma solução para o problema nos freios do utilitário-esportivo Dodge Journey. O defeito faz com que seja sentida trepidação no pedal. Em seguida, trocam-se pastilhas e discos e algum tempo depois a anomalia volta a ocorrer. O defeito atinge diversas unidades do modelo e já foi alvo de recall em 2011, mas persiste em veículos produzidos depois disso. Geraldo relatou sua história durante audiência pública realizada pelo MPMG no último dia 23 (reportagem publicada em 25 de setembro) e, em pesquisa com consumidores, o caderno Vrum constatou que o defeito não é um caso isolado. Além de atingir outras unidades do Dodge Journey, manifesta-se também no Fiat Freemont – exatamente o mesmo carro, que começou a ser comercializado pela marca italiana depois da aquisição de ações do grupo Chrysler, detentor da Dodge – e não só em unidades comercializadas no Brasil, mas também em outras países.

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Geraldo adquiriu o primeiro Journey zero-quilômetro em abril de 2011 e com cerca de 1 mil quilômetros rodados começou a sentir uma vibração no pedal do freio. Procurou a concessionária que atendia a marca na época e foram trocados os discos e pastilhas de freio. Pouco tempo depois o problema voltou e aos 25 mil quilômetros já tinham sido feitas oito substituições. Insatisfeito, ele se preparava para mover ação contra a Chrysler, quando lhe foi proposto um acordo de indenização e troca por outro Journey zero-quilômetro 2012. “Eles me convenceram de que o 2012 não tinha mais o problema e acabei concordando”, conta. Só que, aos 2 mil quilômetros, o novo carro começou a apresentar o defeito e rapidamente Geraldo voltou a assistir ao mesmo filme, com diversas idas à concessionária, trocas de discos e pastilhas de freio e retorno do problema algum tempo depois.


Na última troca, há dois meses, estando o carro com cerca de 9 mil quilômetros, Geraldo pediu na concessionária um relatório informando os problemas. “Eles me disseram que houve empeno do disco e desgaste prematuro das pastilhas, mas se negaram a passar um relatório, alegando que estavam proibidos pela Chrysler de passar as informações por escrito. Chamei a polícia na hora e fiz um boletim de ocorrência”, desabafa. Em seguida, Geraldo procurou uma empresa de inspeção veicular credenciada pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) e pediu uma análise do carro, que foi reprovado por problemas no sistema de freios.

MURCHO Para o empresário Rosano Procópio Duarte, morador de Itabira, na Região Central, a 111 quilômetros de Belo Horizonte, a sensação é de “freio murcho”. Ele comprou um Journey 2012 e começou a perceber o problema de trepidação aos 8 mil quilômetros. Também foram trocados discos e pastilhas e o defeito persistiu. Com quase 20 mil quilômetros foi feita nova troca, que também não resolveu. “A trepidação é na roda dianteira, mas a traseira parece que não segura. Vou mandar rebocar o carro e levar para a concessionária, pois não dá para andar assim”, afirma, acrescentando que pretende entrar na Justiça.

No modelo 2014, Freemont ganhou câmbio automático de seis marchas



“Você compra um carro zero, sem freio”, desabafa o também empresário Alexandre de Oliveira Ramos, de São Paulo. Alexandre comprou um Journey 2009, blindado, em concessionária autorizada da capital paulista. Na primeira viagem começou a sentir a trepidação. As mesmas trocas foram feitas. Mas, como nos outros relatos, o problema voltou.

LINHA DO TEMPO Em pesquisa por sites especializados e redes sociais é possível notar que as reclamações são inúmeras e os relatos bem parecidos, postados de toda parte do Brasil, por proprietários não só do Dodge Journey como do Fiat Freemont. As preocupações são inúmeras e ressaltam falta de confiança, o que é natural, já que o problema atinge nada menos que o sistema de freios. E não ficam restritas ao Brasil. Em fevereiro de 2011, diante de várias reclamações pelo mesmo problema nos Estados Unidos, a Chrysler adotou um programa de extensão de garantia para os norte-americanos, exatamente para a troca das pastilhas e discos de freio do Dodge Journey por constatar “desgaste prematuro”. Um mês depois, foi convocado um recall no Brasil, mas que ficou restrito a 1.626 unidades ano/modelo 2009 e 2010. Além disso, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios firmou com a empresa um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), no qual a Chrysler se comprometia a ressarcir os consumidores de prejuízos decorrentes do defeito antes da realização do recall.


Em dezembro de 2012, a revista Quattroruote, renomada publicação italiana na área automotiva, relatou em matéria o defeito nos Fiat Freemont comercializados na Itália. O problema relatado pela revista é exatamente o mesmo: o pedal vibra, as revendas trocam pastilhas e discos de freio e a anormalidade retorna.

MEDIDAS Em resposta ao caderno Vrum, a Chrysler limitou-se a dizer que “já tomou as providências cabíveis para atender os clientes”. A Fiat não retornou até o fechamento desta edição.

 

Enquanto isso...

...Desgaste prematuro de pneus

As queixas em torno do Fiat Freemont não se limitam ao sistema de freios. Consumidores também reclamam de desgaste prematuro dos pneus. Dono de um modelo 2012, o contador Cláudio Emílio Rodrigues Cordeiro, de Salvador, conta que aos 12 mil quilômetros começou a perceber os pneus esfarelando. Ao procurar uma concessionária Fiat, recomendaram a ele que fosse até uma loja Yokohama, “responsável” pelos pneus, para fazer a reclamação, mas não deu em nada. O mesmo ocorreu com o empresário Marcus Meyer Leiro, que detectou o desgaste entre os 10 mil e 15 mil quilômetros. Ignorado pela revenda autorizada Fiat, ele se recusou a procurar uma loja especializada nos pneus Yokohama. Já o representante comercial Ricardo Marques, que identificou que os pneus estavam “picotando” com cerca de 10 mil quilômetros, também procurou um representante dos pneus, apesar de não concordar com a posição da Fiat, mas nem sequer obteve retorno. 

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