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Transferência imediata de tecnologia pode ter levado governo a escolher caças da sueca Saab

Embora a opção dos equipamentos suecos tenha uma origem racional pela técnica e economia, especialistas do setor acreditam que houve uma decisão política. Novos caças começam a chegar em 2018

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

A escolha do Saab Gripen NG para a substituição da frota de caças da Força Aérea Brasileira (FAB) pode ter sido uma decisão política. É o que pensa alguns especialistas do setor, como o professor Elones Fernando Ribeiro, diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Segundo Ribeiro, o F-18 SuperHornet, de fabricação americana, possui mais qualidades, porém tem um preço mais salgado.

 

Veja mais fotos dos caças Gripen, da Saab!

 


Além dos suecos da Saab, estavam na disputa a norte-americana Boeing (F-18E/FSuper Hornet) e a francesa Dassault, com o modelo Rafale F3. “Foi uma escolha política. Tudo caminhava para a opção do F-18. Trata-se de uma retaliação do governo brasileiro pela espionagem dos Estados Unidos. O caça da Suécia é um projeto; o produto da Boeing é uma aeronave já em operação, uma ferramenta consolidada, inclusive com experiência de guerra”, pontua Ribeiro.


Com 42 anos de experiência com aviação, que inclui passagem pela FAB, Varig e docência, o professor aponta ainda o fator econômico para a escolha, uma vez que o Gripen é o mais barato dos três finalistas para compor a defesa nacional.


“O Gripen tem uma autonomia menor que o F-18, mas atende os requisitos da defesa, controle e reconhecimento do espaço aéreo nacional. E tem uma vantagem, tem a metade do custo por hora de voo do Rafale, fabricado na França e bem menos que o americano. Mas o aparelho da Boeing tem muito mais qualidade. O Brasil perdeu a oportunidade de ter uma arma de referência no continente sul-americano”, analisa. Um outro problema é o uso pela Marinha. “Os porta-aviões brasileiros não podem receber o Gripen, completa.

 

Conheça o caça que o Brasil comprou: 


Mas para o professor Fernando Catalano, do departamento de Engenharia Aeronáutica da USP de São Carlos, a operação no porta-aviões não seria um problema. Segundo ele, as plataformas que o Brasil tem atendem aos aviões da Marinha e, diante disso, a escolha dos caças não entrou nesta questão. Para Catalano, a opção pelas aeronaves suecas foi uma surpresa, mas os três modelos concorrentes cumprem as exigências do programa brasileiro FX-2. “Foi uma escolha política, mas também foi uma decisão técnica e econômica, pois o Saab é um monomotor ou seja, é mais econômico e tem custo de manutenção mais baixo, mas acredito que o ponto de decisão foi a transferência de tecnologia”, explica.


A Saab anunciou que haverá transferência de tecnologia imediatamente, o que é de extrema importância para o que o Brasil possa manter as aeronaves de forma independente.


Derivado de gerações anteriores do Gripen, o modelo NG (New Generation) ainda voa apenas em testes. Para o governo, isso é positivo, uma vez que a tecnologia transferida será “inédita para o setor aeroespacial”.


“Quando terminar o desenvolvimento nós teremos propriedade intelectual desse avião, teremos acesso a tudo”, explicou o comandante da Aeronaútica, Juniti Saito.

 

O Gripen NG será utilizado em missões de defesa aérea, fazendo o reconhecimento do espaço, além de ataques no solo e no mar. Um dos requisitos apontados pela FAB para a escolha do modelo foi a tecnologia de ponta, com sensores avançados e fusão de dados. O contrato contempla ainda treinamento de pilotos e mecânicos, aquisição de simuladores de voo e logística inicial.


A FAB irá receber o primeiro caça sueco no final de 2018. O Gripen NG tem 14,1 metros de comprimento, 8,6 metros de envergadura e velocidade máxima de M 2.0, ou seja, duas vezes a velocidade do som (2.400 km/h) e pode ir de Goiânia a Salvador, por exemplo, em apenas 30 minutos.

Saab diz que iniciará transferência de tecnologia imediatamente


Projeto FX-2
O Projeto FX-2 teve início em 2001. Aeronaves de três países ( Estados Unidos, Suécia e França) disputaram o contrato com o governo brasileiro. Os caças suecos substituirão os Mirage 2000, que serão aposentados este mês.

Com a desativação do modelo, a FAB irá usar, principalmente, os caças F5M até a chegada dos aviões Gripen. Existe ainda a possibilidade de os suecos disponibilizarem ao Brasil versões anteriores do Gripen até a entrega dos modelos NG.