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Sul-africano revoluciona setor automotivo com carros elétricos

Estará Elon Musk pronto para entrar para a história da indústria automobilística, a exemplo do seu criador Henry Ford? A questão merece reflexão

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Sul-africano revoluciona setor automotivo com carros elétricos
Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Em 2013, foram licenciadas nos EUA 8.347 unidades do elétrico Tesla S

Em 16 de junho de 1903, aos 40 anos, Henry Ford fundou a Ford. O empreendedor estadunidense foi o primeiro a aplicar os conceitos da produção em série de carros, contribuindo para aumentar a eficiência, com redução do tempo e dos custos de produção. O fordismo revolucionou a indústria automobilística da época e os transportes nos Estados Unidos.

Passado pouco mais de um século, surge outro ícone no cenário automotivo que poderá também revolucionar a indústria automobilística global. Trata-se de Elon Musk, que concidentemente aos 40 anos iniciou a produção de carros elétricos com a marca Tesla, em 2011, e lançou o seu primeiro modelo 100% elétrico nos Estados Unidos em junho de 2012.

É incontestável e surpreendente o que Musk tem realizado. Desde que Henry Ford produziu o modelo T, mais de 100 anos se passaram (seu lançamento em outubro de 1908) sem nenhuma grande mudança na concepção dos automóveis. No entanto, em apenas dois anos, pode-se dizer que Musk está fazendo uma verdadeira revolução na indústria automobilística.

O desafio de produzir carros 100% elétricos em massa parecia intransponível, especialmente aos olhares dos críticos, que zombavam de seu projeto. Uma tentativa análoga havia sido experimentada pela GM em 1996, quando ainda detinha a prerrogativa de maior empresa do mundo, tendo sucumbido diante da promessa de colocar carros elétricos em massa no mercado, retirando o EV1 de circulação em 1999.

Musk fundou a Tesla com uma pequena parcela de financiamento do governo dos Estados Unidos e conseguiu produzir, entre outros, o Model S. Um carro confortável, moderno, com a maior autonomia de mercado entre os elétricos (em torno de 450 quilômetros com uma única carga) e com preço acessível (em torno de US$ 64 mil nos EUA, já deduzidos os incentivos), se comparado aos seus concorrentes diretos.

Em pouco tempo, o improvável ocorreu. No ano passado, o 100% elétrico Model S superou em 30% as vendas de seu rival mais próximo, o luxuoso Mercedes classe S com motor a gasolina. A montadora de Palo Alto, Califórnia, já conseguiu registrar um trimestre de lucro, e anunciou que poderá antecipar a devolução do empréstimo ao governo.

Mercado

Elon Musk fundou a Tesla com ajuda do governo americano

A Tesla, apesar de incipiente, se tornou um fenômeno do mercado de carros. De acordo com a associação de carros novos da Califórnia, foram licenciadas no ano passado 8.347 unidades do Tesla Model S. No mesmo período, ela vendeu mais de 22 mil veículos.

Em 25 de fevereiro de 2014, as ações da Tesla voltaram a subir de cotação, elevando o valor da empresa para mais de US$ 30 bilhões (a GM vale apenas o dobro). Entre os planos ambiciosos da companhia, encontra-se o lançamento previsto para os próximos três anos de um modelo E, um carro menor e com autonomia em torno de 370 quilômetros, que custará aproximadamente US$ 35 mil. Também, encontra-se em andamento o projeto de carros elétricos autônomos, permitindo o deslocamento sem motorista (apenas por navegador do tipo GPS).

Futuro

A Tesla e a Apple têm planos para criar um carro elétrico ainda mais conectado eletronicamente. Fala-se, inclusive, na possibilidade de a Apple comprar o controle acionário da Tesla, o que não seria nenhum absurdo.

Recentemente, Musk apresentou ao governo dos Estados Unidos da América um projeto para construção de uma fábrica gigante de baterias de íon-lítio, onde seriam aplicados em torno de US$ 5 bilhões. O investimento previsto para 2017 ampliará a capacidade de vendas da Tesla para até 500 mil veículos por ano, além de gerar empregos para 6.500 pessoas. A fábrica ocupará área de cerca de 10 milhões de metros quadrados e será equipada com painéis para produção de energia solar e torres para geração de energia eólica, suprindo assim as necessidades da empresa.

Com a nova fábrica, Musk espera reduzir significativamente o preço das baterias. Atualmente, segundo especialistas do setor, o custo médio das baterias é de cerca de US$ 400 por quilowatt-hora. A Tesla pretende alcançar US$ 200 por quilowatt-hora nos próximos três anos. A esse preço, as baterias se tornarão acessíveis, a ponto de servirem como fonte de alimentação e back-up para a indústria de energia elétrica.

Meio milhão

Musk diz um dia querer fabricar anualmente, e em uma única planta na Califórnia, meio milhão de carros movidos a bateria. Porém, antes quer superar as 30 mil unidades este ano. Ele parece mesmo ser um líder à frente de sua época, pois há quem diga que ele despacha de uma mesa localizada no meio da fábrica, ao lado da linha de montagem do Modelo S.

Alguns fatores são favoráveis aos planos de Musk. Governos sensíveis às alterações climáticas, por exemplo, estão se mobilizando para inibir as emissões antropogênicas, especialmente da indústria automotiva e dos transportes. Além disso, o desenvolvimento sustentável atrai, cada dia mais, a atenção e o interesse de investidores globais.

Por tudo isso, será que Elon Musk se transformará mesmo no Henry Ford dos novos tempos? Isso só o tempo dirá, mas, na dúvida, é melhor os concorrentes abrirem bem os olhos, enquanto há tempo.

(*) Escritor, conferencista e doutorando em Política de Desenvolvimento Sustentável
Blog: verdesobrerodas.com.br
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