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Entrevista

Presidente da Caoa Chery fala sobre a crise e confirma Exeed fabricado no Brasil em 2021

%u201CVamos ter que conquistar o espaço, superar outras marcas, para chegar em 2022 com 3% de participação%u201D - Marcio Alfonso, CEO da Caoa Chery - Foto: Caoa Chery/Divulgação
A marca chinesa Chery chegou no Brasil há pouco mais de 10 anos e neste período tem conquistado seu lugar no ranking gradativamente. Desde 2017, passou a ser conhecida como Caoa Chery, quando foi feita uma parceria com o empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade. Mas o nome que está à frente da marca no mercado brasileiro é do engenheiro Marcio Alfonso, profissional com 43 anos de experiência no setor automotivo, com passagem longa pela Ford. Em entrevista ao VRUM, o presidente da Caoa Chery falou sobre a crise imposta pela COVID-19, a intenção de chegar a 3% de participação no mercado e revelou as novidades da Chery para o Brasil nos próximos meses, confirmando a produção local de um SUV da Exeed, subdivisão de luxo da marca chinesa, provavelmente o LX, em 2021.


A história da Chery no Brasil começou em 2009, quando a marca chinesa abriu suas instalações em Salto, São Paulo, ainda como importadora. Na época, comercializava por aqui o modelo Tiggo, mas logo depois vieram o Face, o Cielo, o Celer e o QQ. Em 2014, a montadora inaugurou a fábrica em Jacareí, no interior paulista, a primeira fora da China, com capacidade fabril de 50 mil unidades por ano. Ali foram feitos o Celer, hatch e sedã, e em 2016, o novo QQ, que saiu de linha em 2019.

 

Mas em 2017 a Caoa adquiriu 50% das operações brasileiras da Chery, formando a nova empresa, com as fábricas em Jacareí (SP) e Anápolis (GO). A montadora fez uma mudança radical em seu portifólio, abandonando os veículos compactos e investindo em um sedã médio, o Arrizo 5, e os SUVs Tiggo 2, Tiggo 5x e Tiggo 7.

Porém, os planos da Caoa Chery foram prejudicados pela crise do novo coronavírus e em março as duas fábricas foram paralisadas. O CEO da marca no Brasil, Marcio Alfonso fala sobre o momento atual e suas expectativas para o pós-pandemia:
O sedã Arrizo 6 será produzido em Jacareí e terá motor 1.5 turbo de 147cv, câmbio CVT e porta-malas de 570 litros - Foto: Caoa Chery/Divulgação


Qual é a sua história com a marca chinesa Chery?

Minha relação com a Chery no Brasil começou em 2017, quando a Caoa costurou o acordo com a marca chinesa. Fui para a China para discutir o contrato e participar das negociações, fazendo acertos sobre cooperação técnica e produtos. O acordo foi formalizado em novembro daquele ano, quando fui nomeado CEO da Caoa Chery.

Qual o seu histórico no setor automotivo que fez com que o Caoa o escolhesse para a difícil missão?

Tenho 43 anos de experiência no setor automotivo. Comecei trabalhando com processos de manufatura, depois passei para projetos. Fui para os Estados Unidos desenvolver projetos de injeção de combustível e depois para a Ford na Inglaterra. Participei do desenvolvimento o EcoSport, do Fiesta e do Focus.

Mais recentemente, ajudei aa projetar o novo Ka. Foram mais de 37 anos de história na Ford, de onde saí para me engajar no projeto da Caoa, assumindo a área de engenharia e depois logística. Até que fui nomeado CEO da marca no Brasil.

E como foi trabalhar com os chineses, que têm uma visão de vida e de negócios tão diferente dos brasileiros?

No início, eles tinham muitas dúvidas de como se fazer presente no mercado brasileiro. Eles tinham a ideia de que o sucesso viria com carros populares compactos, mas o mercado mudou muito. Nos segmentos de carros pequenos é preciso ter volume. Nós conseguimos convencê-los de que seria melhor vender modelos com maior valor agregado, mas em volumes menores. Na China, eles perceberam que tínhamos competência técnica para acompanhar o desenvolvimento dos projetos e logo começamos a propor algumas adaptações e mudanças de design para atender o gosto do consumidor brasileiro. Assim, lançamos o Arrizo, um sedã com uma boa plataforma.
Depois, o Tiggo 2 pedimos para segurar o lançamento até meados de 2018, para adequar o projeto ao gosto do brasileiro. Eles nos deixam opinar sobre os produtos, pedem nossa participação. Eles sabem que a Caoa tem braços fortes em serviço, pós-vendas e engenharia. E o Brasil, mais do que nunca, está nos planos estratégicos da Chery. É região prioritária pra eles, que querem entrar também na Europa e Estados Unidos, e o Brasil seria uma ponte para outros mercados na América do Sul.

Mas aí veio a pandemia da COVID-19, as fábricas pararam e os planos tiveram que ser modificados. Como foi esse momento para vocês?

Muita coisa positiva vai ficar, as mudanças nas rotinas. Na China, os primeiros meses do ano foram pesados, com vendas muito baixas. Mas por lá eles já estão retomando. A boa notícia para nós no Brasil é que em momento algum eles nos deixaram sem suprimento de peças de reposição. E com a experiência adquirida, nos ajudaram no combate à COVID-19.
Por aqui, a produção vai sendo retomada lentamente. Dos 530 colaboradores que temos, a maioria está em home office. Em Jacareí, 110 funcionários voltaram ao trabalho nesta semana. Um retorno gradual. O ritmo normal só virá em julho. A fábrica de Anápolis voltou a produzir o veículo comercial, e depois será retomada a produção dos SUVs.

Como as vendas da marca foram afetadas?

Estamos vendendo 16% do que somos capazes de vender. Começamos o ano com um crescimento de 15% nas vendas em comparação ao mesmo período de 2019. A paralisação em março provocou uma desaceleração bruta nas vendas. Ainda estamos sofrendo muito as consequências dessa paralisação, mas não vamos nos precipitar. Vamos conciliar o crescimento da produção com a demanda.
Uma crise como essa deixa todos os envolvidos fragilizados. Os fornecedores estão sofrendo muito, pois contam com o faturamento da Caoa Chery. E a nossa preocupação é que todos se saiam bem dessa situação.

Antes da pandemia, qual era a projeção de vendas da Caoa Chery para o mercado brasileiro?

Nossa meta estimada para 2020 era de 40 mil unidades vendidas. Mas, com a crise do novo coronavírus, sofremos uma redução muito forte, e se conseguirmos vender 20 mil unidades no ano será considerado um número expressivo. Até as projeções de vendas para o mercado de veículos no Brasil estão sendo revistas, e devem ficar em torno de 1,8 milhão. Por isso, estimamos que a retomada será muito lenta. Nos próximos dois meses devemos recuperar cerca de 30%. E até o fim do ano, 80%. Será gradual. Só no ano que vem devemos voltar aos números projetados.

Um dos temas polêmicos do momento é a dúvida entre priorizar a saúde ou a economia. Qual a sua posição sobre o assunto?

Acho que devemos priorizar a saúde. Não tenho dúvida. Mas não podemos esquecer que o empresário também padece nessa situação. Teremos problemas graves. Acho que faltou rigor no enfrentamento da pandemia logo no começo do processo. Era pra ter sido feito um isolamento mais radical. Agora ficou difícil, as pessoas precisam sobreviver. E vai ficando cada vez mais difícil. Mas não tenho a solução para o problema. É um desafio jamais enfrentado. Vamos ter que agir com bom senso, cuidar das pessoas. Porém, não podemos esquecer que o caixa das empresas é finito. Dá pra segurar dois ou três meses com as reservas, mas se acaba, não tem como pagar as contas. Não dá pra ficar parado por muito tempo. Eu torço para que tudo isso passe sem deixar sequelas. Mas para nós, primeiro vem a saúde dos funcionários, depois a saúde financeira.

Quais são as novidades que a Caoa Chery prepara para o mercado brasileiro independentemente da pandemia?

Em julho, vamos lançar o sedã médio Arrizo 6, que chegará para competir com Toyota Corolla, Honda Civic e outros. É um carro que vai chamar a atenção pelo espaço interno, conforto, acabamento de qualidade e muito valor agregado. O modelo já está sendo montado na fábrica de Jacareí e terá preço competitivo e muito conteúdo. Depois, em agosto, vamos lançar o Tiggo 8, SUV de sete lugares, que será produzido em Anápolis. Mas a grande novidade é que tivemos a aprovação da China para produzir no Brasil um SUV premium da Exeed, com alto padrão de acabamento e tecnologia, que concorrerá com modelos de marcas como BMW e Mercedes-Benz. Ainda não definimos qual será o modelo e as versões, mas a novidade deve chegar ao mercado brasileiro em janeiro de 2021. No mesmo ano teremos outro novo modelo para o Brasil, mas esse ainda não posso dar informações.
O Tiggo 8 é um SUV de sete lugares que será produzido em Anápolis, e vai estrear um motor quatro cilindros de 197cv - Foto: Caoa Chery/Divulgação


A Caoa Chery pretende ampliar a rede de concessionárias no Brasil em curto prazo?

Nós conseguimos ir de 23 para 110 pontos de venda no Brasil rapidamente. Temos empresários fortes e solidários à frente de muitas revendas, e temos discutido com eles ações para a retomada das vendas. Nosso objetivo é chegar ao fim do ano com 145 concessionárias no país. E no ano que vem, com a pandemia controlada, pretendemos aumentar ainda mais a rede. Estamos abrindo revendas em Florianópolis, Blumenau e no Centro-Oeste. E em Belo Horizonte estamos negociando com novos parceiros.

A sua visão é otimista para o pós-pandemia?

O cenário não é muito favorável, principalmente com câmbio absurdo e indústria reprimida. Mas são ciclos, as crises fazem parte do contexto e temos que pensar a longo prazo. Os orientais fazem planos sempre olhando para a frente. Eles têm uma forma de pensar diferente da nossa. Mas para gerir uma empresa é preciso muita análise e planejamento estratégico.

Ainda é difícil convencer o brasileiro a comprar carro chinês? O que vocês têm feito para mudar esse cenário?

É um trabalho permanente. Temos que provar que a marca é confiável com produto de qualidade e serviços eficientes. Temos que estimular o cliente a testar nossos carros e comparar com a concorrência. Nossos produtos têm tecnologia e acabamento de qualidade. E a Caoa sempre foi muito respeitada pelos serviços prestados, pela satisfação do consumidor e pelo compromisso com peças de reposição. Atualmente, os indicadores da Caoa Chery são quase idênticos aos da Caoa Hyundai. Ou seja, para conquistar o consumidor temos que ter preços competitivos e serviços rápidos. Temos que comunicar bem, comprovando que o que dizemos sobre nossos carros é verdade. Ainda tem gente que tem aversão à marca chinesa, mas já temos clientes que defendem nossa marca.

 

Quais são os reais objetivos da Caoa Chery no mercado brasileiro?


Nosso planejamento é conquistar espaço no mercado e em mais dois anos atingir de 2% a 3% de market share. Para este ano, antes da pandemia, a intenção era fechar com 1,7% de participação no mercado brasileiro. Mas vamos ter que conquistar o espaço, superar outras marcas, para chegar em 2022 com 3% de participação.

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