Há quem diga que o brasileiro precisa ser estudado, devido às suas peculiaridades e soluções criativas para enfrentar situações adversas na vida. Mas quando o assunto é carro, o cidadão nascido no Brasil se mostra ainda mais diferenciado, pois nutre uma paixão pelo patrimônio sobre rodas que, para muitos, não tem explicação. E foi mais ou menos assim com Heitor Marotta, filho de italianos, um verdadeiro apaixonado por automóveis, que teve muitos modelos em sua garagem, entre eles a VW Santana Quantum GL, de 1987, impecavelmente preservada até a sua morte. Mas a história da perua não parou aí, pois o carro foi comprado e restaurado pelo administrador Adriano Castelo Branco Resende, de 49 anos, sobrinho de Heitor, que revelou todos os incríveis cuidados do tio com a perua, parte integrante da história da família.
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Adriano conta que o tio Heitor era casado com a tia Emereciana, irmã de sua mãe, e que o casal, por escolha, não teve filhos, papel que acabou sendo transferido aos sobrinhos. E uma das lembranças que marcaram a memória do administrador foi um carrinho que tinha na casa dos tios, um Ford Group 6. “Eu nunca o levava comigo para casa. O carrinho sempre ficava lá esperando por mim”, revelou. O tio Heitor era um apaixonado por carros e durante sua vida teve alguns modelos, com diferentes propostas.
“Tio Heitor manteve a Variant, o Del Rey e as Quantum até sua morte, em 2005, quando um infarto fulminante o levou”, lamenta Adriano. Como a tia Emereciana não dirigia, a Variante 1 e a Quantum GL 1987 permaneceram paradas na garagem por anos, até que ela também morreu em 2011 e os carros foram incluídos no processo de inventário. Adriano conta que sempre teve interesse pela Quantum GL e quando o veículo foi liberado para a venda, em março deste ano, ele foi até o prédio na Rua Aimorés para verificar qual era a real condição da perua.
EMPOEIRADA O carro estava estacionado na vaga onde o tio Heitor o havia deixado pela última vez em 2005. Foram 16 anos em uma garagem coberta, mas que foram suficientes para deixá-la totalmente empoeirada, com os pneus traseiros literalmente quadrados, e ainda sem bateria. “Mas era fácil perceber que sua alma estava forte e que ela precisava de carinho e atenção”, disse Adriano, que herdou a paixão por carros do pai.
Ele conta que encontrou nas bolsas laterais do porta-malas da perua inúmeras peças, como correias dentadas, duas antenas Olympus novas na embalagem e cinco roletes da cobertura sanfonada do compartimento de bagagem. “Imagino que ele teve algumas dores de cabeça com essa cobertura do porta-malas, que foram suficientes para convencê-lo a comprar esses cinco roletes”, analisa Adriano. Mas isso era apenas mais uma prova do excesso de zelo do tio Heitor com seus carros.
Visto o carro, Adriano não teve dúvida em comprá-lo.
A REFORMA Adriano conta que o primeiro passo foi fazer uma revisão geral na parte mecânica, com a troca do radiador, dos quatro amortecedores, além de óleo, fluidos e juntas. Na ocasião, o dono da oficina elogiou o tio Heitor: “Seu tio era impressionante! Só usava peças originais VW”. Depois da mecânica, Adriano partiu para a capotaria, reformando as abas laterais dos bancos dianteiros, já que o tecido do meio estava em perfeitas condições. O passo seguinte foi colocar uma bateria nova e fazer uma rápida revisão no ar-condicionado, que necessitou apenas de duas braçadeiras e gás para voltar a funcionar. Claro que a cobertura do porta-malas também teve que ser arrumada. Os roletes adquiridos pelo tio Heitor não foram em vão.
Feito isso, faltava o polimento na pintura e nas rodas, que trouxe de volta o brilho da perua e deixou claro que o tio Heitor era extremamente cuidadoso com o carro, que se revelou em ótimo estado.
Adriano diz que a Quantum “é uma senhora de 34 anos que tem suas rugas, que permanecerão”. Ele chama a atenção para alguns detalhes, como a cobertura original sobre o assoalho do porta-malas, que está impecável. O compartimento do motor tem uma lâmpada fixada na tampa, com interruptor próprio. Adriano conta ainda que retirou apenas três itens do carro: as calhas de chuva, por questão estética; o brake-light quebrado; e a perigosa trava do cinto de segurança, usada erradamente no passado. Mas a perua ainda traz o toca-fitas Tucano IV, com auto reverse, e alto-falantes com cone de papel.
Para o administrador apaixonado por carros, a perua Quantum guarda parte da história de sua família, por isso teve tanto interesse em preservá-la. Ele destaca também a dirigibilidade da perua, que tem uma característica típica dos anos 1980. Perguntado se venderia o carro, Adriano afirma que agora só pensa em curti-lo e lembrar dos momentos que compartilhou com o tio Heitor.
HISTÓRICO A Volkswagen produziu a Santana Quantum no Brasil de 1985 a 2003. O modelo era derivado do sedã Santana e tinha duas opções de motorização, AP 1.8 (90cv com gasolina e 96cv com álcool) e AP 2.0 (114cv a gasolina), associados ao câmbio manual de cinco marchas ou automático de quatro velocidades. O modelo passou pela primeira reestilização em 1992 e por um facelift em 1999. Suas dimensões são 4,63m de comprimento, 1,70m de largura, 1,45m de altura e 2,55m de distância entre-eixos.