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Aviação - Castelo de sonhos

A aviação comercial brasileira motiva sonhos que não combinam com a realidade

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

A demissão em massa de pilotos e comissários de bordo que está sendo feita pela TAM é fruto de mais um “soluço” ocorrido em 2010.

A tão propagada inclusão social, que seria desejável se não fosse demagógica, levou para a bordo das aeronaves um universo novo de usuários, promovendo mais um “soluço” na aviação comercial brasileira.

A euforia era tamanha. Quem nunca havia voado ficou maravilhado com o charme do novo meio de transporte. Os empresários trataram de aumentar as frotas de suas empresas e o gargalo se concentrava na falta de mão de obra.

Imediatistas, os jovens correram para as escolas de aviação civil e para os aeroclubes. O desejo de se definir profissionalmente, ainda no ensino médio, levou um grande número de pretendentes a alcançarem uma profissão que não exige formação superior.

Escolas de formação de pilotos não faltavam. Somente no Aeroporto Carlos Prates, em Belo Horizonte, estavam estabelecidas quatro escolas de formação de pilotos, além de uma na cidade de Lagoa da Prata (MG).

Mais recentemente, observando a movimentação nos aeroportos do Carlos Prates e das cidades de Pará de Minas e de Divinópolis, notava-se um grande número de jovens dando os primeiros passos na carreira de piloto.

Até atingir a qualificação de comandante de aeronave de grande porte, ou seja, obter a licença de piloto de linha aérea, a carreira de um piloto é muito longa.

O curso teórico de piloto privado dá início à carreira de um profissional de voo. O passo seguinte consiste em aprender a arte do voo e mostrar aptidão em exame realizado pela Anac. Se apto, ele começa a sua busca de marcas para obter a sua licença de piloto comercial, que até há pouco tempo era a porta de entrada para a aviação regular. Esta porta se fechou e não restou alternativa ao futuro piloto de linha aérea senão conseguir as suas marcas voando na aviação geral ou ministrando instrução numa escola de formação de pilotos. São necessárias 1.500 horas de voo em comando para se habilitar à licença de piloto de linha aérea.

A meta é ingressar numa empresa de transporte aéreo regular.

Os “soluços” que periodicamente ocorrem fazem castelos de sonhos se derreterem ao primeiro sopro de realidade.

A numerosa demissão de pilotos e comissários de bordo promovida pela TAM e também pela Gol não é uma exclusividade dos dias atuais.

A quebra em diferentes períodos de empresas aéreas, de quando em quando, coloca no mercado uma onda de desempregados. Muitos seguem para o exterior, mas nem todos têm esta facilidade, pois a fluência na língua inglesa é um requisito fundamental.

O que ocorria no passado é que, quando uma empresa entrava numa rota de dissolução, outra estava na fase de crescimento.

Assim ocorreu com o encerramento das operações da Vasp e Transbrasil, que teve boa parte de seu efetivo absorvido pela TAM e outras empresas regionais que despontavam.

Quando a Varig deixou de operar as suas linhas internacionais, o mercado externo era a meta. Pilotos experientes não encontraram dificuldades de voar sob outras bandeiras. Isto já não ocorreu com o seu efetivo de comissários de bordo, pois a idade se tornou um complicador. Alguns remanescentes da Varig foram incorporados à Gol e Webjet e os seus destinos são desconhecidos, pois a empresa também entrou no processo de redução de seu efetivo de cabine.

E agora, como fica? As duas maiores operadoras dispensam seus profissionais e não surgiu nenhuma iniciativa de formação de um grupo forte no segmento do transporte aéreo.

Para essa massa de alunos em formação, a alternativa é mudar de rumo e investir na carreira de piloto de helicóptero.

Há falta desse profissional no mercado, mas a sua formação é extremamente cara.

Quem estiver disposto a obter a sua licença de piloto comercial de helicóptero e qualificado para voo por instrumentos, pode reservar R$ 300 mil. Uma quantia muito alta para muitos.

Se já estivesse em vigor o projeto idealizado pelo Sindicato Nacional das Empresas de Táxi Aéreo e pela Petrobras, a ser inserido no Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, estaria aberta uma alternativa de formação profissional aos jovens que se preparam para o mercado da aviação comercial.

O fato é que os “soluços” da aviação comercial motivam castelos de sonho, que se derretem ao primeiro sopro da realidade.