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Papo de roda - Tapando o sol com a peneira

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Nossas fábricas de automóveis ficaram indignadas quando a Associated Press divulgou em maio a falta de segurança de seus produtos e concluiu que eles matam mais que modelos similares comercializados na Europa. Nossas fábricas se indignaram. E responderam com argumentos etéreos...

Agora, quem voltou à carga foi o Latin NCAP, entidade uruguaia que realiza crash tests com automóveis comercializados na América Latina. Nesta última série de testes, dois veículos vendidos no Brasil tomaram bomba: Renault Clio e Chevrolet Agile.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) correu novamente em defesa de seus associados, tentando tapar o sol com a peneira. Questiona o Latin NCAP: "Eles seguem critérios próprios, que não necessariamente condizem com aqueles adotados pelas legislações estabelecidas em nenhum lugar do mundo".

Não é bem assim: adquiridos aqui, os carros são enviados para o Euro NCAP (entidade europeia independente) jogá-los contra a parede, de acordo com padrões europeus. Onde falta critério é no Brasil, pois nossa mansa legislação aceita tanto o padrão norte-americano quanto o europeu. A Anfavea se faz de desentendida ao afirmar que não se admite subjetividade e que tudo funciona na base do "passa ou não passa. O veículo só pode ser comercializado se atingir os resultados exigidos pelo que a lei estabelece". Fosse verdade, não seriam vendidos aqui modelos como o JAC J3, Fiat Uno, Chevrolet Classic e Agile, Renault Clio e outros que tiveram nenhuma ou apenas uma das cinco estrelas possíveis nos crash tests. Ou a Anfavea acredita que um carro que levou zero no Latin NCAP seria aprovado por algum dos laboratórios certificados pelo Inmetro? Eu não acredito.

Enquanto não houver uma entidade independente brasileira realizando testes de segurança, o nível de proteção dos nossos automóveis será sempre um mistério. Por enquanto, eles são aprovados mediante uma autocertificação: a fábrica apresenta ao governo um documento que seu modelo foi aprovado em um laboratório certificado pelo Inmetro em algum lugar do mundo. É a raposa tomando conta do galinheiro...

Será que a Anfavea é suficientemente ingênua para afirmar que míseras barras laterais de proteção colocadas dentro das portas "superam" as exigências legais de segurança? Ela ignora que algumas das nossas chapas de aço são inferiores às utilizadas no Primeiro Mundo e que nossos para-choques são desprovidos do crash-box, que ajuda a amortecer os impactos?

As fábricas iludem o mercado ao afirmar que seus modelos serão mais seguros a partir de 2014 com a obrigatoriedade do airbag, pois o equipamento não faz milagre em carro projetado sem foco na segurança. Peugeot 207 e Nissan March, testados com airbag duplo, receberam apenas duas estrelas. O JAC J3 apenas uma. A Anfavea acredita que esses modelos serão mais seguros em 2014?