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Novo kit promete solucionar problema na correia dentada da VW Amarok

Kit para evitar desgaste prematuro na correia dentada é instalado em algumas unidades, mas nem todos os proprietários são contemplados. Problema persiste há pelo menos um ano

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Leilão acontecerá no dia 17 de novembro Fotos: RM Sotheby’s/Divulgação

Com primeira troca prevista no manual aos 120 mil quilômetros, correia tem sido substituída a cada 10 mil, em alguns casos já bem danificada

 

 

EDK, sigla em inglês do kit para evitar a penetração de poeira no motor, ou melhor, na correia dentada, é a atual solução encontrada pela Volkswagen para resolver o problema de desgaste prematuro na correia dentada da picape Amarok. O kit, que consiste em uma verdadeira parafernália e toma espaço razoável no compartimento do motor, inclui basicamente ventilador, novo filtro de ar e um tubo corrugado ligado à nova cobertura da correia (além de console de filtro de ar e chapa de proteção para o cartucho do filtro de ar e conjunto de cabos com relés), com o objetivo de sugar o ar, comprimindo-o e fazendo pressão, de modo que as partículas de poeira sejam impedidas de chegar até a correia.
O caderno Vrum teve acesso a um vídeo produzido pela montadora (veja fotos de reprodução), que foi distribuído a concessionárias de diversas localidades do Brasil e ensina como fazer a instalação do kit EDK. A ação faz parte da campanha que está sendo chamada internamente de “Força-tarefa Amarok” e que consistiria, a princípio, na convocação apenas de proprietários frotistas, cujos veículos são usados para trabalho dentro de mineradoras, para a instalação gratuita do kit. Uma espécie de recall branco – quando o fabricante faz campanha chamando proprietários para a solução de problemas que não afetam diretamente a segurança e não divulgada oficialmente –, mas que não inclui todos os prejudicados. O kit EDK é pelo menos a segunda solução adotada para tentar resolver o problema. Há cerca de um ano (reportagem publicada em 18 de abril de 2012), o caderno Vrum mostrou outra tentativa, a de trocar a capa da correia, com melhor vedação, mas não surtiu efeito.

Novamente, a reportagem ouviu diversos proprietários, frotistas ou não, que usam a Amarok para fins diferentes e moram em regiões diferentes. Alguns trafegam em área de minério, outros nunca passaram nem perto. Mas todos reclamam do desgaste prematuro da correia (em alguns casos de rompimento), com diagnóstico de troca na maioria das vezes a cada 10 mil quilômetros, quando o recomendado pelo fabricante (sem considerar condições severas de uso) é a partir do 12º serviço ou 120 mil quilômetros, já que os serviços devem ser realizados de 10 mil em 10 mil quilômetros ou a cada seis meses. Para o veículo que trafega em condições severas, entre as quais está incluída circulação predominante em regiões de minério, o manual prevê a verificação da correia a cada 10 mil quilômetros, mas há casos de rompimento antes dos 5 mil quilômetros.

 

Em funcionamento, o EDK deve impedir que partículas de pó cheguem à correia, devido à compressão do ar e sucção da poeira pelo novo filtro

 

 

Confira os depoimentos.

 

 

DEPOIMENTOS
Clei Santiago
diretor de empresa

“Temos 23 Amaroks: oito estão no Pará, três no Espírito Santo e o restante em Minas Gerais. Prestamos serviço de bombeiros para a empresa Vale. Nossos carros não são dos que rodam em minério o tempo todo, mas trafegam nas regiões. Conseguimos que a VW instalasse o kit EDK em algumas das picapes (não fomos convocados, brigamos por essa instalação), mas não foi autorizado para todas as unidades. E mesmo assim tenho medo de que não resolva, pois já me falaram que a parte de baixo da correia fica desprotegida. Antes disso, das 23 Amaroks oito romperam a correia, uma delas antes dos 5 mil quilômetros. Teve uma situação em que a correia já estava esfarelando, mas a fábrica não autorizou a troca em garantia e duas semanas depois a correia rompeu. Tentamos trocar os modelos que tínhamos com motor de 122cv para o de 180cv e essas já vieram com o kit, mas uma delas já está parada em uma concessionária no interior de Minas. Sabemos que há uma falha de projeto. Fico triste porque, apesar desse problema, o conforto da Amarok é incomparavelmente melhor do que das outras do segmento”


Leonardo Curi
engenheiro

“Comprei uma em 2011 com 15 mil quilômetros rodados. Meu uso era dentro da cidade. Aos 34 mil a correia arrebentou e estragou o cabeçote. Arrumaram em garantia, mas depois houve um problema com a parte elétrica e acabei vendendo. Ainda tive um problema com a numeração do motor, que foi resolvido”

Sérgio Amaral Teixeira
dentista

“Comprei o modelo zero-quilômetro em maio de 2011. Hoje está com pouco mais de 40 mil quilômetros. Já trocaram a correia três vezes: aos 10 mil, 20 mil e 30 mil quilômetros. Mas foi em garantia. Quando completou 40 mil, pedi para olhar novamente, mas desta vez falaram que não precisava trocar”

Roberto Gazzinelli
engenheiro mecânico

“A correia já foi trocada três vezes. A primeira foi com 10 mil quilômetros, mas nem fiquei sabendo. Só me falaram que tinham feita a troca muito tempo depois. Quando chegou a revisão dos 20 mil, aí falaram em trocar, mas disse que não iria pagar e não trocaram. Aos 30 mil foi a mesma coisa, mas peguei uma reportagem que vocês haviam feito na época (18 de abril de 2012, mencionada acima) e trocaram em garantia. Depois, foi aos 59 mil quilômetros, veio até um pessoal da Argentina para fazer inspeção e trocaram novamente em garantia. Agora, com 70 mil quilômetros, queriam trocar e cobrar a troca. Ameacei entrar na Justiça e procurar a imprensa (carta publicada pelo caderno Vrum em 3 de abril deste ano). Depois da publicação da carta, levei o carro novamente à concessionária e agora falaram que não preciso mais trocar”

Gustavo Motta Espírito Santo
comerciante

“Comprei a Amarok de uso pessoal (tenho outras duas como frotista), usada, há cerca de um mês e a levei para a revisão dos 30 mil quilômetros. No orçamento estava prevista a troca da correia, polia e bomba d’água, mas não seria em garantia. Como ‘bati o pé’, disseram que ela estava com algumas trincas, mas que eu poderia rodar mais uns 3 mil quilômetros. Como assim, como liberaram, então, se havia o risco de arrebentar? Pedi que me dessem um laudo dizendo isso, mas não me deram. Não rodo em condição de pó de minério, mas rodo em fazenda. Quer dizer que isso é condição severa? Você vai me dizer que alguém compra uma picape desse porte e não pode andar na terra??? Ela não é feita para isso?”

Aureliano Marcos do Espírito Santo
aposentado

“Comprei a Amarok usada, com 26 mil quilômetros, já tendo sido trocados correia, polia e cabeçote. Sei disso porque o ex-proprietário me contou. Não consta no manual. Estou indignado, pois comprei para uso em propriedade rural e agora fiquei sabendo que terei que trocar a correia a cada 5 mil ou 10 mil quilômetros.”

SÓ PARA SEVEROS
A Volkswagen informou que desenvolveu o kit para aplicação exclusiva em veículos utilizados no interior de mineradoras (condição de extrema severidade), sendo a instalação realizada em garantia. Segundo a montadora, isso é necessário em virtude da alta concentração de partículas de minério em suspensão (substância altamente abrasiva). Em relação a clientes frotistas, cujos veículos apresentaram a ocorrência mencionada, ainda segundo a fábrica, “depois da revisão e dos ajustes necessários, eles foram entregues em condições normais de uso”.