Em um cenário onde o carro zero está com preço para lá de salgado, os seminovos têm sido a saída para quem não pode esperar para trocar de veículo. Mas é preciso ter cuidado antes de assinar o cheque, para não levar para casa uma bomba-relógio. Conversamos com o engenheiro mecânico André Fagundes, da consultoria técnica automotiva Confiar, que deu várias dicas para que o leitor consiga reconhecer se tem alguma coisa errada com o carro que pretende comprar.
FORA
Na pintura, procure por diferenças de tonalidade, opacidade, algum escorrido de verniz ou deformidades de lixamento sob a tinta.
Veja se a lataria não apresenta ondulações.
Confira o alinhamento dos faróis e lanternas.
Abra e feche as portas, porta-malas e capô, veja se encontra alguma dificuldade.
Confira se existem folgas nas extremidades das portas, capô, tampa do porta-malas, assim como o alinhamento em relação às partes fixas.
Se o carro é rebaixado, a chance de ter sido muito exigido é grande.
Para descobrir se a carroceria foi reparada, procure por vestígios do serviço, como alguma pulverização da tinta, pó de massa plástica ou restos da fita usada para isolar o local, que muitas vezes ficam nas borrachas, peças plásticas ou nas caixas de roda.
Se a roda tem um grande amassado, o choque pode ter afetado a suspensão.
Desgaste irregular nos pneus revela desde problema de alinhamento até dano estrutural.
As sujeiras podem revelar o local onde o carro foi usado, como em uma região de mineração, que causa desgaste em determinados componentes, como a correia dentada.
DENTRO
Teste todos os itens: vidros elétricos, travas, ar-condicionado etc.
Fique ligado, um mau cheiro pode revelar alguma infiltração.
Já perfume forte pode ter sido usado para mascarar algum dano, como o causado por alagamento
É possível evidenciar reparos estruturais analisando o aspecto em vários locais, como sob o carpete do assoalho do porta-malas ou sob o assento do banco traseiro. Outra forma fácil é mover as borrachas dos quadros das portas e tampa traseira em vários pontos. Veja se encontra alguma sequência de pontos de solda irregular ou diferente dos demais. Se achou estranho, compare com o outro lado.
Veja se a gravação do chassi na carroceria corresponde com a do documento. Os oito algarismos finais também devem estar gravados nos vidros e em várias etiquetas adesivas distribuídas pelo carro (como na torre do amortecedor dianteiro direito, coluna A da porta dianteira direita). Se um ou outro não tiver, é normal que algum vidro já tenha se quebrado. Mas se vários estiverem sem gravação ou apresentarem aspecto diferente entre si, é preciso olhar o veículo com mais cuidado, pois pode ter sido adulterado ou sofrido colisão forte.
Avaliar o aspecto da gravação do chassi, se está com aparência irregular, oxidado ou se a pintura do local apresenta diferença com as áreas vizinhas. Isso pode evidenciar remarcação, adulteração ou até mesmo ter sido transplantado de outro veículo e colocado ali. Se remarcado, a informação deve constar no CRLV.
DENTRO DO CAPÔ
Conferir os lacres originais de tinta dos parafusos das dobradiças do capô e de outros parafusos e porcas de elementos do motor que não deveriam ter sofrido intervenção.
Normalmente, há uma etiqueta no painel dianteiro com o número do chassi, que deve ser o mesmo do veículo, relacionado com o número do motor e até mesmo da caixa de marcha. Pesquise onde o fabricante do veículo costuma gravar o número do motor e compare com a informação da etiqueta.
Desconfie de um motor muito limpo, que pode ter sido lavado para esconder vazamento.
NO ELEVADOR
Leve o carro até um posto de combustível ou oficina e peça para erguê-lo num elevador. Procure por amassados, manchas de óleo nos amortecedores, vazamento de óleo ou graxa em componentes do motor e transmissão, marcas de solda em componentes mecânicos do motor ou suspensão ou se os pneus têm algum dano nas laterais internas.
RODANDO
Ligue o carro e veja se as luzes de advertência (vermelhas ou laranjas) se apagam.
Repare se o veículo apresenta nível exagerado de ruído, tanto do motor quanto dos componentes internos.
Sinta se o carro tende para algum lado na freada um pouco mais forte, o que pode evidenciar problemas no sistema de freio ou suspensão.
Acelere de forma mais vigorosa e veja se ele puxa para algum lado, o que pode indicar também problema na suspensão, como uma borracha do leque rompida.
Sinta se o volante está com folga, se trepida em velocidades mais altas (entre 80km/h e 90km/h), se está torto ou se a direção puxa para algum lado.
Se uma fumaça branca densa estiver saindo pelo escapamento, é um indicativo de que o motor está queimando óleo.
QUILOMETRAGEM REAL
Como alterar a quilometragem do veículo é uma prática comum, compare esse número com o estado geral (desgaste) de alguns componentes: pedaleira, volante, manopla da alavanca de câmbio e bancos. Puxe o cinto de segurança até o fim e compare o estado do cadarço mais exposto com o que fica recolhido.
Se o carro é seminovo e pouco rodado, certamente os pneus devem ser originais. Atenção: é comum que algum pneu seja substituído devido a um dano qualquer, mas se dois ou até todos forem novos, é sinal de que o veículo não rodou pouco.
IMPEDIMENTOS
Procure por uma empresa que faça uma busca no histórico do veículo para saber se ele já esteve em um leilão, se foi sinistrado, se é furtado, se há algum impedimento na Justiça, multas, etc.